30 maio 2010
(s/ título)
Toda a acção tem a sua consequência e os homens, lividos, passam por ti sem t'olharem.
Presos em seu ruinoso destino avançam em direcção à morte.
Apenas se fôssemos deuses seria possível a humana comunidade.
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29 maio 2010
(s/ título)
A ruína da cor é o preço do tempo. Todos o sabem. E se assim não fosse?
Poder-se-ia pensar que num universo às arrecuas o último momento – porventura aquele de maior esplendor - precederia o incriado, o que é outra forma de aniquilação.
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28 maio 2010
(s/ título)
Era uma vez um homem que comprendeu o exacto sentido da sua vida: demonstrar aos outros que a existência era uma ilusão: primeiro existiu na Índia e depois na Grécia.
No século XX muitos homens foram o seu veículo.
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27 maio 2010
(s/ título)
há vários planos demenciais em literatura: um a mera subverção categorial e também a do sentido; a fé em um sentido unívoco a cada texto; a do sentido alegórico: ou seja, de que na multiplicidade de sentido haverá um deus abscôndito, em especial se aplicarmos a lógica da prova ornitológica borgiana.
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26 maio 2010
(s/ título)
exercer o belo artifício da palavra é incorrer na vertigem do sentido. Junte-se ao peso de cada termo – a ligação inextrincável com a inteira vida de cada leitor – à ruína de toda a fórmula exposta ao tempo; a ambiguidade de cada insinuação, o reverso de toda a ironia. Um só texto canónico contém em si o conjunto da literatura. E isso não é uma afirmação própria do género dito fantástico mas um facto banal.
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25 maio 2010
(s/ título)
Multiplicai os mais de seis biliões de almas por quantas compõem o esteio das precedentes gerações desde que o mundo é mundo. Subtraí aqueles que por excesso d'ambição ou sábia presença fascinaram os homens. Talvez não seja impossível conceber um vivente, hoje ou pregresso, em que pelo mais puro acaso tenha sido agraciado com uma precisão exemplar em cada acto que inadvertidamente executou, cujo mais ténue pensamento seja de cristalina clarividência, cujos sonhos – por ele esquecídos – sejam a prefiguração da epítome do estado evolutivo da humanidade. Que todos os momentos lhe sejam aprazíveis, que nunca conheça a dor, o sofrimento e a desilusão, eximido à doença e quiçá à própria morte.
Ora, se ele existiu, exista ou vier a existir não custa nem choca afirmar que foi é e será, de entre nós, o bem-aventurado.
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24 maio 2010
A Ceia Infernal
naquele tempo... o soar da meia-noite é o tremendo momento daquele repasto onde obesos cevados com figura de gente e carmins cardinalícios devoram os homens que, aos centos, s'encontram na mesa do banquete. E como lhes não era autorizado sequer perecer alí eram aos pedaços, mutilados para além de todo o juízo, mas vivos. O breu do céu em luto de estrelas, no entanto, não é tão espesso como os veludos e arrás que decoram tal palácio nascido no centro de uma hora sem tempo, em cujos jardins polulam mistérios e os alabastros apenas reflectem a ruína das coisas. O arauto abre com mofinante solenidade anunciando a chegada dos comensais: dois grifos guardam a porta porque nesse cenáculo, como é evidente, só não é permitida a piedade e a falta desse gosto venal pelo excesso e toda a volúpia. Assim, mesmo uma potestade se mostrar não estar à altura das graves responsabilidades que lhe estão incumbidas bem pode terminar como acepipe, melhor degustado quanto a ferina malícia dos outros assim o permita. E na assembléia convivem o amor, a paixão e a guerra, porque a coorte angélica a ordem bélica e os Doutores do Patíbulo – ninguém o ignora – são os verdedeiros eixos do orbe. Para além desses, fruindo de quantos gozos comporão o elenco da história, multplicam-se as teratológicas bestas em infinitas variações do completo elenco de disformidades. E sendo o tabernáculo curto para tantos e tantos, algozes e vítimas, funcionários, doutores e inversas divindades, hárpias e corvos e ratos e moscas têm de s'amontoar a esmo, em perpétua refrega e devir. Mesmo assim, quando um subordinado inadvertidamente incomda o seu superior este pode sevícia-lo d'imediato mas não sem aquele tentar, com ínvia manha, usurpar o lugar pois se, por qualquer meio lograr fazê-lo isso significa que merece ser o senhor e não o servo.
E quando chega a alba, cegos pela luz, exaustos com o excessivo ardor, suspendem-se os trabalhos.
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23 maio 2010
(s/ título)
Na vida o equilíbrio, na arte o excesso.
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22 maio 2010
(s/ título)
Salvé, meu bom conselheiro, dizei então de vossa virtude.
Dizeis que a beleza oprime, comprime a alma com o peso do inefável, que é muito e de uma assentada só faz mover, sem que nós tenhamos nada com isso, o zingarelho profundo que nos orienta, circunspecular ou outro. Como os olhos do mundo em constante paralaxe persecutória e ainda se não reza a missa a metade. A metamorfose que é o tempo sempre demasiado breve e cheio do retardo que é o arrependimento: quem dera soubesse antes, agora é tarde.
E se a sombra que te acompanha não é a tua mas provém de outra mais intrínseca realidade, é certo que não compreensível, porventura funesta e distorcida, de modo a que se não reconheçam as formas que perseguem nos esconsos das vielas essa que é do hábito. Pois bem, toda a imagem é divina porque toda a alegria é passageira e, assim, há que transfixar o momento na perene contemplação.
Isso é mor de deuses e esses estão em tudo, no mais breve sonido, na víscera das coisas, aquelas que são e, do mesmo modo, na fantástica imaginária da cornucópia produtiva, quando gera aquilo que, de puro e perfeito, se abstém da consabida corrupção.
Por isso mesmo esta e outras teratologias – quando assim o são - se albergam num tudo-perfeito mais amplo que o catálogo do sensível pode, ao primeiro esforço, compor. Sendo as coisas de que ainda não há qualquer memória talvez até mais reais que as outras porquanto se encontram ainda envoltas dessa pujante força do que é ora nato, num esforço para anular o informe momento prévio à sua concepção. E, ainda que se morra mil vezes, um único esgar do que é novo - e experimenta o mundo – poderá remir tantas eras de pó que, neste infinito palimpsesto em que vivemos, têm a senha de sufocar quanto vivente.
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21 maio 2010
(s/ título)
Eis uma Filosofia feita d'anedotas, toda d'exemplos apócrifos.
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20 maio 2010
(s/ título)
Preso de um grito único haverá o esforço para prestar a mui devida atenção às ínfimas coisas que compõem a complexa urdidura.
Mesmo e sobretudo logrando preservar o hiato das macroestruturas que tanto parecem englobar para se descobrir, após cuidadosa inspecção, apenas um resíduo de vaguidades. Porque até a forte ideia que transporta em suas linhas-gerais um alor vasto e vário necessita de uma concretização e portanto de se autolimitar nessa específica concretização sob pena de se perder em fumos no plano do ideal projectado.
Mas quereis dar algo de novo e os velhos mestres sorriem seu ricto descarnado, compassivo, irónico e cruel da além-tumba; porque toda a intenção é redundante nest'orbe cansado.
Assim, por isso, dediquemo-nos nesta breve vela de vida à preciosa visão epicurista.
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19 maio 2010
Cançoneta
A Poesia diz
e não diz
e vós poeta
sendo louco
sugeris

Para melhor ser
testemunha
dessa ínfima
unha,
De um menos ainda
Nada

Do Nada
Que, um dia,
Foi tudo
Que fez o mundo
rotundo

S'abismando de ser mundo.
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18 maio 2010
(s/ título)
como viva e respire essoutra daimónica voz. Antes um lago (mas nunca de luz) onde se vai matizando o espéculo do mundo.
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17 maio 2010
(s/ título)
No Inverno temos o frio e a pouca-fé. No tudo sombrio tão mais difícil é amar as coisas como no pleno-Solar melhor se sente o ardor de quanto existe. Ah, se ao menos Ele houvesse, mas a mente inclemente e mordaz do homem-do-século nega foro de verdade a qualquer desejo de divindade. E, no entanto, é perene o sentimento de que subjaz um princípio de simplicidade, infinita e de tal ordem que é também infinitamente complexa, indescritível. E tal ubíqua singeleza sempre nos ilude porque na miríade que é o mundo como eleger aquilo que encerra a sua cifra secreta e o torna acessível e completo a um único pensamento? E como não sabemos nem jamais o poderemos saber suspiramos, às vezes, por um abscôndito deus...
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16 maio 2010
(s/ título)
Poderia Hercalito dizer nunca se fuma um cigarro duas vezes?
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15 maio 2010
(s/ título)
tendes d'amar a fome porque sem ela não há alor e vontade. Se tudo fosse indiferente não haveria homens, comunidade, civilização. É certo que também não haveria o mal nem o seu reverso. A uma bonançosa paz sucederia o tédio. E esse seria de tal modo letal que nem tu nem eu estaríamos aqui.
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14 maio 2010
transevidência
A circunstância de sermos senão um saco de vísceras nos fará bom-pasto de vermes e d'olvido.
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13 maio 2010
(s/ título)
(...)
Sentis já os ossos triturados
Sob a mole humana
Sem rosto,
feroz, cruel e estulta?
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12 maio 2010
(s/ título)
vem e entra no País do Tempo onde os rios fluem, confluem e desaguam sem sentido, as casas, errantes, nunca s'encontram duas vezes na mesma rua e mesmo estas goram qualquer mapa ou planta...
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11 maio 2010
(s/ título)
“Eu vejo mas meu corpo é cego. E, no entanto, transporta-me em seu recesso, autónomo-automático. Porém eu vivo da imagem e por isso em êxtase. Assim, seria duplo: o organismo em si cerrado e aquele que vê; não fora a maravilha de me saber nessa duplicidade, ao sair de mim; também sou tríplice, ou seja, múltiplo.
Apenas mais um pouco e aqui se constata que com tal espelho em distorção – devido ao somático ângulo-morto - s'alcança um efeito caleidoscópico que mais ajunta tantas fantasmáticas figuras quantas viagens s'empreendem ao ritmo intrapsíquico desta alucinante tenção.
É uma turba, um sobre-excesso d'imagens geradas pela dilatada percepção de um corpo que se não revê embora contenha uns olhos que de tanto olhar-em-volta se perdem na múltidão de mim mesmo.
E com isso também me perco; não sou um, sou cem-mil.
Por fim, pergunto: será essa a maldição da consciência presa à máquina dos orgãos?”
Isto foi pensado antes do abismo e da loucura.
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10 maio 2010
(s/ título)
Que as minhas coisas aconteçam longe de mim. E depois me chamem e naturalizem, celebratórias e felizes, em seu alor. Este o princípio hedonista do Sant'Imobilismo.
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09 maio 2010
(s/ título)
Todos – na imensa mole humana – somos singulares. Mas o artista quere ser mais singular que os outros.
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08 maio 2010
(s/ título)
Olhar para o tecido das cousas e conseguir pô-las a falar. Por isso o escritor não cria, como é evidente, ex-nihil, apenas imprime, dá, confere, ao mundo essa virtude comunicante. Que está à espera de ser mas ainda não é.
Todas as vezes que nos maravilhamos com a refrescante singularidade do nosso autor preferido se obnubila esse óbvio argumento de imanência que há mesmo na realidade intraliterária que mesmo sendo uma grelha abstracta, que se sobrepõe à pura factualidade histórica, tem uma individualidade toda sua, um campo de acção que influi em toda a obra. Daqui se segue que não há razão para o medo, a timidez opressiva e angustiosa da influência. Tão-só se exige um esforço da dádiva que é todo ancorado no diálogo poético entre o eu e o mundo.
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07 maio 2010
hic et nunc
Todo o grande sofrimento é imersivo: existe de si para si no horizonte d'eternidade.
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06 maio 2010
Juanita vai à fonte
Não tem ninguém que a siga
Juanita vai à fonte
Não tem ninguém que lhe diga:

Que o mundo
Já não é redondo
São novos os tempos
É outra a cantiga
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05 maio 2010
(s/ título)
A infinita melancolia de uma cidade com chuva. A infinita melancolia de uma cidade pequena, com chuva. Melhor ainda: a infinita melancolia de uma cidade pequena, com chuva, não banhada de rio ou de mar. Enxuta mas com chuva. E as gentes? Taciturnas, porque a chuva as invade. Não sabendo elas...
Todo o sentido, o elemento, de um bailado barroco, com momentos simples, acessíveis à comum façanha, próprios também da comunidade. Ser contra é ser pleno, porque através da negação há a virtude de uma afirmação obscurecida em si mesma. E é desse elemento de vida e sombras que se constrói, se diz quando nega, se joga e depois é um amplo horizonte a matizar de quanto pormenor queira a vontade. Dizer não é quanto basta, há a acção (que há sempre) e esse estar se biografando é jogo e pânico da posteridade. Não seja é multidão e olvido. Passos perdidos sobre o mundo que, imperecível para nossa pouca substância de nenhuma perenidade, reclama por isso mais agudo senso, ideação ainda que daninha, dimensão de última fronteira.
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04 maio 2010
(s/ título)
Olhar para o universo e depois ser o universo.
Pôr e dispôr os peões que na tua fantasia – quiçá demente, quiçá todas o sejam – aprouver. Sabes que se te sentires opresso tudo se comprime em conformidade mas que, no entanto, se já não puderes suportar a fúria e o peso do tempo sempre aquele elixir d'efeito soporífero poderá aplacar as horas, portando o sono apaziguador; mesmo, a fria morte?
Será verdade que – pobre orbe sem ti, desditoso mundo sem mundo – poderás perecer?
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01 maio 2010
Ne Varietur
é consabido que a natureza do que é obsediante te come e consome por dentro, isto é, de dentro para fora; torna estranho o Outro; implica a corrupção da sã vontade às funduras obscuras do vício, da pulsão, da compulsão; a pouco e pouco se vai esboroando a fina película, frágil liame que te prende ao mundo e, a fim, quando nada restar senão uma casca vazia e triste acolherás como último prazer, depois do penúltimo momento, em que te entregaste com todo o alor à íntima fraqueza, o sono infinito da morte.
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