A Ceia Infernal
naquele tempo... o soar da meia-noite é o tremendo momento daquele repasto onde obesos cevados com figura de gente e carmins cardinalícios devoram os homens que, aos centos, s'encontram na mesa do banquete. E como lhes não era autorizado sequer perecer alí eram aos pedaços, mutilados para além de todo o juízo, mas vivos. O breu do céu em luto de estrelas, no entanto, não é tão espesso como os veludos e arrás que decoram tal palácio nascido no centro de uma hora sem tempo, em cujos jardins polulam mistérios e os alabastros apenas reflectem a ruína das coisas. O arauto abre com mofinante solenidade anunciando a chegada dos comensais: dois grifos guardam a porta porque nesse cenáculo, como é evidente, só não é permitida a piedade e a falta desse gosto venal pelo excesso e toda a volúpia. Assim, mesmo uma potestade se mostrar não estar à altura das graves responsabilidades que lhe estão incumbidas bem pode terminar como acepipe, melhor degustado quanto a ferina malícia dos outros assim o permita. E na assembléia convivem o amor, a paixão e a guerra, porque a coorte angélica a ordem bélica e os Doutores do Patíbulo – ninguém o ignora – são os verdedeiros eixos do orbe. Para além desses, fruindo de quantos gozos comporão o elenco da história, multplicam-se as teratológicas bestas em infinitas variações do completo elenco de disformidades. E sendo o tabernáculo curto para tantos e tantos, algozes e vítimas, funcionários, doutores e inversas divindades, hárpias e corvos e ratos e moscas têm de s'amontoar a esmo, em perpétua refrega e devir. Mesmo assim, quando um subordinado inadvertidamente incomda o seu superior este pode sevícia-lo d'imediato mas não sem aquele tentar, com ínvia manha, usurpar o lugar pois se, por qualquer meio lograr fazê-lo isso significa que merece ser o senhor e não o servo. E quando chega a alba, cegos pela luz, exaustos com o excessivo ardor, suspendem-se os trabalhos. |
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