31 dezembro 2009
(s/ título)
a mente viscosa
possessão asfixiante
de um dia sem regresso.
que luto funéreo s'apoderou
de mim?
tão sitiado quão protegido
perdido e errante
no espaço confinado
de um sentir de cristal
a cada pétala, minuto ou segundo
preso, preso, preso
e só em meu penar.
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30 dezembro 2009
(s/ título)
de um raio,
electrizado pla
cervical abaixo,
caiu em estupor.
(São inúmeras
as formas
do penar).
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29 dezembro 2009
(s/ título)
o sábio dissera
mas
a ninguém foi dado ouvir.
É preciso que o mundo
pereça
para nascer
qualquer primavera.
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28 dezembro 2009
(s/ título)
o pássaro era denso
mas ascende e procede
assim cada coisa,
encantamento de virtude,
encontre seu lugar
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27 dezembro 2009
(s/ título)
Poesia?
A criptografia do sentir
sabendo-se sentimento,
exacerbada canícula
d'enxurro do tempo
ou, ainda,
o pouco de quase-nada
no vário-vasto
mas tão exíguo
universo
Poesia?
Lição sabida:
A deriva da alma
de si própria
perdida.
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26 dezembro 2009
(s/ título)
a perfeição crepuscular
é forma antiga
de nostalgia;
de todo o universo
se convoca
a magna-negritude
que velará,
opaca,
teus olhos.
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25 dezembro 2009
(s/ título)
do primevo alvor
ao último ricto
vário,
conquanto impermanente,
espiralando s'escoa,
o breve tempo de vida;
quisera resistir
ao seu refluxo,
ao árido vazio,
ao que magoa.
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24 dezembro 2009
(s/ título)
Uma tristeza
tão perfeita
que é vasto
monumento
ao estertor
do desalento.
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23 dezembro 2009
(s/ título)
tudo o que é grave e tenaz aparenta imensitude e nós apenas anões perante esse vasto assunto do mundo.
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22 dezembro 2009
(s/ título)
o sonho d'escritor é c'alguém ouça, lembre ou murmure suas palavras.
que essas construções que tanto apascenta saiam para sempre do redil que a indiferença das gentes impõe.
assim, luta, primeiro, para se ver reconhecido, depois contra o esquecimento. só a fim se lembra que é um homem.
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21 dezembro 2009
(s/ título)
o sentido
está
na lonjura.
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20 dezembro 2009
O Milionésimo
I.
Contemplai um miriápode, mas aquele animal fantástico de mil patas, mil cascos, com tantas garras quanto permitem as extremidades locomotoras.
Do mesmo modo a figura de mil lados que um dia será presente no desdobrar em sólido pelo infra-espaço na correspondente cifra de planos.
Onde foi, aliás, gerada a Famosa Machina, a estrepitosa ideia de um vago penar erróneo e sem-sentido.
II.
As teias do tempo onde s'escoa a clepsidra vã e assim uma vida que mal toca, espelha outras. Diremos d'escol quem nos lê embora querendo chegar a todos – e tentando chegar aos cumes d'humildade em anulação – e de todos colher o hausto de um belo sorriso d'aquiescência: “animai a dolente vontade; aquilo que aí tens é precioso e assim ficará por tantos séculos, também dez, que mal te parcerá o olvido.”
E é por isso que tanta fúria em derrisão há nestas crónicas, mirabólicas, multiplicando-se no labor de si, auto-pulsando-se ao seu ritmo próprio que é o dos dias, e noites insones quantas vezes de pesadelo porque no mundo mais pululam tantas outras palavras que se erguem como uma muralha de silêncio ou ruído d'inanidades.
Mas seja, e isso é muito ou tão-só o bastante.
III.
Toda a imagem é divina porque toda a alegria é passageira e, assim, há que transfixar o momento na perene contemplação.
Isso é mor de deuses e esses estão em tudo, no mais breve sonido, na víscera das coisas, aquelas que são e, do mesmo modo, na fantástica imaginária da cornucópia produtiva, quando gera aquilo que, de puro e perfeito, se abstém da consabida corrupção.
Como calar, então, essa quanta maravilha?
Como estancar o grito imóvel no seu eterno tom?
IV.
A perene circunstância de se ser e saber e viver enquanto pela morte s'espera é um exaurir só do pouco tempo que ao tempo ousamos roubar.
Isso, meus caros, já vós melhor o sabeis - mas, que querem? - se esta queda para a ressabida redundância é pecha d'artista que, temo, não seduz mais do que na vã e escassa citação, conforme o momento, ladina e feliz ou carregada dos mofos e próprios verdetes das épocas passadas, as tais que melhor restavam enterradas e esquecidas porque de mortal temos muito e de sobra sem ser preciso estar instante-constante a invocar os dizeres de quanto defunto jamais pegou em pena.
V.
Nesta crónica quero dizer tudo e porque as determinações do mundo, sós, não bastam, s'apela ao êxtase da suprasensível fantasia. Mirabilia, portanto, na sua codificação de teratologias, de voos outros, além da matéria.
Pois as fantasmáticas figuras são metáfora da urdidura do orbe, da sua quotidiana faina que, aliás, se não ousa desfiar.
E convém relembrar que o mais insondável elenco, mirífico e incrível é esse conjunto de vinte e poucos sons os quais, mais diversos em sua combinação que a própria forma de Proteus, compõem a enunciação de toda a criatura viva e respirante ou, tão-só, pensada em ideal.
Por isso um texto inaugural só pode ser a crónica da crónica do porvir.
Defina-se então a paleta de cores irreais para que nada fique, virtualmente, de fora excepto o por-dentro das coisas, já que se tenta a duvidosa edificação de uma ciência vaga, de nula, no que há a flutuar na orla do sentido. Entronizemos o discurso por demais ocioso naquilo que tem de alor pelo belo recorte e o bom efeito da sombra falaz com esteio de nada e, se ambição acaso houver, no polícromo dizer do rio da vida ou do Letes da memória.
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19 dezembro 2009
(s/ título)
o vento, tudo &
a hora-do-lobo
sempiterna;
asinha sem tardança
a Espera é velha,
já se cansa
de ser quem era,
d'outro tempo, de
criança.
mil fadas, o fundo
desespero
no esgoto
do sentir
pois,
bem-vê estancado
seu fluir
no que é jogo
mor de vida
ou alento.
&,
no eirado,
o eterno
gato.
a fúria,
nesse chão,
tem luvas
de veludo;
sob a pérgola
com silêncio
mui astuto
d'esotérico
assunto.
sabe as'trelas,
não de vê-las,
mas são
luzes
sob
o pêlo.
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18 dezembro 2009
Pérgola
a mágica alegria é flutuar sem espaço, no dentro das coisas sem essas presentes: tudo se constrói, apaga e reconstrói; mil mundos absurdos; uma saudade sã ou toda funesta, a melancolia e primavera. não que não haja mote e viagem, por terras de gente próxima, em paragens sem nome, no longe e calor. contudo, mesmo aí, apenas se reafirma a insaciável ipseidade. não, uma pérgola é quanto basta, no dia de sol a sombra é solicitude; quando o riacho corre ausente de si. mais e mais ainda. nem pérgula nem água, apenas silêncio e em verdade. quantas vezes e maleitas foram a cifra da curiosidade, quanto valor d'imobilismo se perdeu para sempre? os impérios desfeitos, o arrás desfiado, a honra e o mor de vida maculados. que importa tua ópera de dislates? só a ausência importa. só o sossego e a paz d'escolástico contentamento, quero crer. é claro que o sustento da vida impõe seu ditame, que o ósculo da morte é esquecido no afã buliçoso. e, é por isso, que mais sábios que estrelas há no eterno, vieram apregoar a grande virtude, a rendenção do fragor, e a outros tantos algozes foi permitido acerar o gume, adestrar a arte. a vida, a vida, a vida. mas tão cansados da vida.
só a mão, desertora, s'afadiga.
por isso, e apenas por isso, há escrita.
o mundo em perpétua construção.
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17 dezembro 2009
Pedaços de Prosa #9
e o tição da verdade ecoa pelo recesso tortuoso da cifra secreta.
a compulsão é antecâmara d'abismo. ledo esquecimento, é certo; porém o temeroso, suspeitosamente, espreita, certifica e testa o chão se chão, ainda, houver.
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16 dezembro 2009
Pedaços de Prosa #8 (variação)
ser grande e para alturas olhar. colher o hausto de tenebroso queimar como quem busca combustível. não viver em recusa. a natureza, bela e majestática, acolhe e destrói. sê como ela, mas em compasso sereno.
mais e mais alor e força e consistência, que a trama se desfia a cada momento.
pudera ser uno com toda a creatura. o vário é de máxima riqueza, o puro do bom. mesmo o teratológico labirinto é produto da divindade.
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15 dezembro 2009
Pedaços de Prosa #7
ser grande e para alturas olhar. colher o hausto de tenebroso queimar como quem busca combustível. não viver em recusa. a natureza, bela e majestática, acolhe e destrói. sê como ela, em compasso uno e sereno.
mais e mais alor e força e consistência, que a trama se desfia a cada momento.
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14 dezembro 2009
Pedaços de Prosa #6
Aquela grande destinação. Pela qual esperaste todos estes séculos. Malfadado o dia, hora-má que, em sua desgraça, suavemente fez recair o recolhimento próprio da realidade.
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13 dezembro 2009
Pedaços de Prosa #5
um dia o cão-negro te verá em desdém: não te quer para almoço. Se forem contadas tuas desgraças – e a quotidiana melancolia – desinteressarás a ferina fauce do bicho. Ele que tudo traga e mastiga será um de repúdio, não-me-toques e olhalás.
E é disto que se faz toda a esperança.
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12 dezembro 2009
Pedaços de Prosa #4
e quem tem mil-diabos na víscera pode contar, sem fortuna ou acaso, com mui grave dilema: a larva-do-fogo ou um imenso gélido torpor; qualquer, de resto, d'impossível quietude, quer pelo que consome e não s'esgota quer pelo que preserva e não arrisca nem erra.
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11 dezembro 2009
Pedaços de Prosa #3
enquanto a sempiterna chama sorri, de labareda, na clepsidra, o nosso tempestivo tempo, para sempre, s'escoa.
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10 dezembro 2009
Pedaços de Prosa #2
a hora-fatal só s'anuncia depois da queda.
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09 dezembro 2009
Pedaços de Prosa #1
Na leveza do ar tudo é aerofagia; se pensar na dura terra, brotam homúnculos às resmas ou mil-folhas.
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08 dezembro 2009
(s/ título)
coisa leve
são as palavras.
Não importam mais do que
um quê
e no entanto
são sustento,
sustentáculo, diria
mesmo,
de tanta cruz.
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07 dezembro 2009
(s/ título)
o nada
é a nata
da vida.
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06 dezembro 2009
(s/ título)
o leitor sábio
me dirá:
no deve & haver
da vida,
em quanto
vamos
?
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05 dezembro 2009
Carta Astral
da Flor Infinita
verá
substantivado
o afã
pelo belo,
o puro,
pelo bom.
é na
hiper-intelecção
da urdidura
do todo
que s'encontra.
o quê?
ninguém o saberá
dizer
pois se
no inferno
da linguagem
ardem os santos.
à míngua, na soledade
dos haustos-funestos,
- & em sobre-guarda -
viverás.
quiseras, em outra
nem umbrada
sombra,
mais elevada destinação?
porém, louvai,
as sacras-palavras,
em tanto grimório,
são
pétalas.
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04 dezembro 2009
(s/ título)
a reflexão permite,
ao homem,
conhecer
no espéculo
de si próprio.
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03 dezembro 2009
(s/ título)
tudo está
disperso
no Labirinto.
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02 dezembro 2009
(s/ título)
a escuridão
que m'acolhe
é vida velada.
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01 dezembro 2009
(s/ título)
de tudo o que é
incompatível
dois senhores
duas razões
dois destinos
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