28 abril 2020
Diário da Peste 7/4/2020
O próprio horizonte temporal do problema derrota o equilíbrio psíquico: como será viver sob o espectro da peste, com tudo o que lhe está associado, durante dois anos, por exemplo?
14:20 | 0 Comentários

26 abril 2020
Diário da Peste 4/4/2020 (segunda parte)
3 Uma coisa parece certa. A coberto da emergência, variados «actores», relevantes a todos os níveis político-económicos, estão a posicionar-se para reforçarem o seu poder. Basta pensar nas grandes corporações que lucrarão, numa lógica capitalista feroz e hegemónica, com as oportunidades. Assim como a nível político (basta pensar o que se passou na Hungria). Seguramente, a China poderá colher benefícios concretos, e em termos ideológicos estas situações oferecem argumentos à extrema direita populista, aos regimes autoritários e, em geral, a todas as tendências políticas iliberais. 4 É possível também que, no rescaldo da peste, a esfera de privacidade individual se veja ainda mais enfraquecida. É que se, no Ocidente, toda a alienação da privacidade como contrapartida da comodidade do uso das tecnologias cibernéticas está, neste momento, ainda fundamentalmente nas mãos de corporações sendo explorada para fins publicitários, não se sabe até que ponto a esfera política se vai interessar por tais ferramentas. É uma discussão (e um perigo) que no meio de todo este pânico, porventura, será esquecida.
14:29 | 0 Comentários

24 abril 2020
Diário da Peste 4/4/2020 (primeira parte)
1 São tantas as perguntas que se não adivinham as respostas. Quem e o quê emergirá beneficiado desta longa letargia? Que hábitos mudarão? Que novos equilíbrios serão alcançados? Que oportunidades serão aproveitadas? Haverá melhor distribuição da riqueza ou, pelo contrário, um aprofundar das forças distópicas do capitalismo? E, quanto àqueles que perderão, porque a experiência ensina que são os mais vulneráveis os que mais sofrem com os grandes eventos transformativos? Haverá talvez uma repercussão negativa no todo da sociedade mas devido às profundas assimetrias há, geralmente, um embate desproporcional sobre os mais fracos sejam eles blocos geo-políticos, países, ou indivíduos. 2 Em Portugal, sendo um país pobre e, já antes, desigual, será que vamos entrar num novo período de escassez económica, de perda de direitos sociais? Uma crise económica e social entorpecedora como a última (a da chamada «crise das dívidas soberanas») que, no melhor dos cenários, nos levará ainda mais fundo numa dinâmica distópica que parece ser a tendência neste aziago século XXI?
15:22 | 0 Comentários

23 abril 2020
Diário da Peste 3/4/2020
Naturalmente, há o cansaço. Do isolamento. Das múltiplas preocupações pois tudo é difícil numa sociedade paralisada, a opressão que é o futuro, o próximo com o arrastar disso tudo, aquele posterior à peste pelo que se antecipa de uma crise económica que parece inevitável, filtrada pelo trauma do que aconteceu na crise anterior. Pairando acima disso, o medo do contágio.
14:54 | 0 Comentários

19 abril 2020
Diário da Peste 2/4/2020
É importante uma palavra sobre as «teorias da conspiração». Elas, em geral, têm algo de alucinatório e, por isso, não são credíveis. Todavia, numa coisa talvez estejam certas: há movimentos de escopo imenso, que em muito ultrapassa o indivíduo, numa sociedade global e plena de meios técnicos. Há forças e ideias que constituem um fundo comum mundial que ditam as regras do jogo, geo-político, social, económico e até moral. Essa amplitude desmesurada de tal modo confunde a capacidade de análise que tudo, então, parece possível.
15:29 | 0 Comentários

16 abril 2020
Diário da Peste 1/4/2020
O tempo perde, seguramente, sentido quando, no confinamento, escasseiam os estímulos. Contudo, nada, nunca, está parado. O devir humano continua com a mesma vitalidade de sempre. Agora, porém, está camuflado pelo medo. É a paralisia de um estado larvar do mundo mas de imprevisível mutação.
13:51 | 0 Comentários

10 abril 2020
Diário da Peste 31/3/2020
Um assunto que, lentamente, ocupa todo o tempo, que condiciona todo o espaço (territorialisando todos), que influi em todos os actos da vida e monopoliza toda a atenção. Sim, o desejo do retorno ao que era, ainda no início deste ano, é mais forte do que nunca. Não, esse mundo já desapareceu, não há nada para onde voltar. Quanto mais não seja pela crise económica que se anuncia, e cuja consequência, como todas as crises económicas precedentes, tem o sortilégio de transformar profundamente o mundo. A última, que se arrastou por 10 anos, provocou infinda miséria em Portugal, perturbou a vivência de todos e quando se dela saiu trouxe consigo a praga que foi o turismo (e a gentrificação) embora, ainda assim, isso tenha ajudado a superá-la. Agora, a crise económica será acompanhada, com probabilidade, de aspectos ainda mais sinistros. É como uma grande onda que empurrará para o fundo os náufragos já cansados, já demasiado cansados de tanto nadar.
15:05 | 0 Comentários

09 abril 2020
Diário da Peste 30/3/2020
A vida espreita por baixo do vírus. Converte-se, a vida, em obsessão única, destino único de sobrevivência ou de morte. Por detrás, contudo, pulsam as mesmas forças que impulsionam o devir humano.
16:37 | 0 Comentários

08 abril 2020
Diário da Peste 28/3/2020
Um exercício de escala. A escala ínfima do vírus, a escala máxima do orbe, a escala abstrata da estatística, o horror abstrato dela, a escala da economia, a infinita complexidade de países, continentes inteiros paralisados, a escala dos abismos da estupidez, humana que outra não haverá ou se conhece, e, por contraste a minúcia do engenho científico. A escala de cada um é que é, talvez, a mais problemática. Que pode o indivíduo perante tanta transcendência?
14:10 | 0 Comentários

06 abril 2020
Diário da Peste 27/3/2020
É ainda verdade aquela ideia de que ao lado, antes ou depois da peste vêm a fome e a guerra. Nas suas novas encarnações a fome assume a forma da crise económica e a guerra a de uma acrescida conflitualidade social embora, infelizmente, a fome também possa ser o antigo flagelo da fome e a guerra, outra questão nunca resolvida, continue a despontar em tantos locais do globo e com esta peste tornar-se mais encarniçada. Não se sabe, com o decorrer do tempo, deste tempo distorcido vivido entre o terror, a perda e o tédio, como essas que cavalgam na desgraça vão fazer sentir a sua presença. Acima de todas, no entanto, sua irmã e senhora, a morte sorri.
15:43 | 0 Comentários

05 abril 2020
Diário da Peste 25/4/2020
Indignam-se as pessoas com a crueldade e a infâmia das grandes empresas que despedem pessoal e querem, apesar da sua imensa prosperidade, apoios estatais ou uma socialização dos seus prejuízos nestes tempos de peste. Mas isso é a estrutura base, dir-se-ia genética, do sistema capitalista. Os empregados representam, apenas, custos de produção. Se há uma contracção brutal do mercado então há que despedir para salvar a empresa. A razão até é simples: o valor social de uma empresa não é directo, não há relativamente aos seus trabalhadores um compromisso social e humanitário, há tão somente e em abstracto o valor indirecto de permitirem a empregabilidade da população em geral. Contribuem para a comunidade apenas nessa medida quer se considere que haverá, mais tarde, um trickle down dos seus proventos, quer se enverede por uma noção mais essencialista do valor da iniciativa privada, como o único princípio verdadeiro que trará prosperidade a todos. E, claro está, para manter um quase sacrossanto princípio de propriedade há que manter a estrita separação entre o capital pessoal dos accionistas e o capital, de risco, das empresas. Por isso não se indignem contra aqueles grandes empresários que solicitam ajudas públicas. Para eles, as suas empresas estão sempre primeiro. A questão, a verdadeira questão, é se queremos esse tipo de capitalismo puro, e toda a lógica dele que, sendo perversa, fica agora sob escrutínio. Teme-se que, de algum modo, este capitalismo que se aproximou, novamente, deste modelo puro saia reforçado desta crise, e ainda mais cruel e desumano.
15:36 | 0 Comentários

04 abril 2020
Diário da Peste 24/3/2020
A apreensão (o pânico) de sair à rua. O medo do outro. Como pode isso não ser traumático?
16:31 | 0 Comentários

03 abril 2020
Diário da Peste 22/3/2020
Sente-se, agora, uma tensão que respeita à quantidade de informação que é saudável para cada um. Perante a perspectiva de um arrastar da situação com a possibilidade de aparecerem num futuro a médio prazo inúmeros outros problemas desencadeados pela peste, e da dimensão obsessiva deste assunto e da saturação que isso implica, será que fazer dele um tema permanente de inquirição é a coisa mais saudável? Não será, pelo contrário, mais sensato buscar um equilíbrio, ainda que precário, entre informação, investigação e uma salutar alienação?
14:54 | 0 Comentários

02 abril 2020
Diário da Peste 21/3/2020
Esse fechamento é, aliás, a marca de uma sociedade técnica (atirada, agora, de encontro ao virtual): o perigo da disfuncionalidade. A desumanização do virtual como único modo de acesso ao outro. Por outro lado, há, inegavelmente, uma plasticidade imensa do espírito humano, que sabe adaptar-se a todo o tipo de situações e de encontrar equilíbrio mesmo na adversidade. Além do mais, poder-se-á estar também perante uma questão geracional. Os nativos digitais estão tão à vontade com o ecossistema cibernético que talvez lhes não custe a adaptação. Outra pergunta, ainda sem resposta, é: o que será do amor, da amizade, da aproximação ao outro?
19:38 | 0 Comentários

01 abril 2020
Diário da Peste 20/3/2020
A estranha temporalidade deste tempo de peste: este único assunto comanda os dias, e apesar da saturação, a sua resolução é lentíssima. Há, então, um confronto com as potências negativas, claustrofóbicas, do confinamento sanitário. Há, também, uma tensão para um empobrecimento existencial. Nada da vida com estímulos e com os outros, sob o medo, a apreensão, a vivência com o que está fechado e interdito.
20:03 | 0 Comentários

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