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Muito se vai tentando
No grito múltiplo No penar inane Na força Do viço Da antiga Juventude Assim como, na idade madura. ![]() ![]()
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Quanto quisera
Quanto pudera Quanto dissera Quanto amara. As cinzas Falam mais alto O orbe em ruína O corpo é ruína Tudo – e tudo que é força & alor – É mesmo tudo São fracas presenças de ser E poder. II. O que é o ser, Vos pergunto - Até à falta d’assunto – O pânico e o terror do nada São tudo o que resta É tudo o que existe. Sim. O que é ser? Eis a pergunta Que espera a vera resposta O ser que é tudo quanto há Que é tudo quanto É Que é esta mesma cadência, Quer pergunta. Cadência que, Como diz o Sábio É tudo. E, No entanto, esse tudo – que, relembremos, é essencial – Parece tão-pouco. Essa palavra simples Que alberga a ventura & e os danados Que tem tanto de desmesura Quanto d’alvor (nada nos diz, nada nos sofre) Nada revela do que é importante. Sim, o que é importante? O que conta quando tudo - como dizem, algures – Estiver dito e feito? O deve & haver da Existência, A cifra final que vindica Todo o azedume Que, aos poucos - mas firmemente – se vai acumulando Nesse rol d’agravamentos A que chamamos vida. III. E temos agora O que nos ocupa O que nos preocupa O que é de saber E, quiçá, d’esquecer. O quer é o Infinito? Aquilo que não se detém Mas, também, Que não Se deteve E – sabemos – Que se não deterá. Nunca. E esse “nunca” Responde e corresponde Ao quesito: o que é tudo? Eis, o mistério. E O mistério É a Palavra. ![]() ![]()
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“The best
Laid plans Of mice and men” They say, when, they lose Track of them. ![]() ![]()
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Não há arte suficiente
Neste embotado Escriba Para dizer O quanto Carece dizer. Em vão gasta as noites, Consome os dias, Deseja e reza, Profanas musas: Dai-lhe a Palavra Ou, então, Que pereça ![]() ![]()
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Todos somos funâmbulos
D’imprecisa linha-de-sombra Que separa a realidade de si própria E de nós mesmos. ![]() ![]()
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Olha o gato.
Não precisas de ter mais do que um gato. Não necessitas de ser mais do que um gato. Não careces de querer ter mais do que um gato. De querer ser mais Do que um gato. Um gato é tudo. É pleno solar, É total meia-noite, É destreza e certeza, Ataraxia perfeita. Um gato É E mais não sabe, não diz, não quer, E mais não é. ![]() ![]()
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Que velado sentimento
T’atromenta os dias Te aclara as noites. Transbrilhante será O clarão Da vera Sabedoria. ![]() ![]()
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Que nada permaneça.
È-me indiferente o penar Como é, também, o regozijo De ser quem sou. Prova uma gota de Sangue Para saber Se, apesar de tudo, Ainda vives. ![]() ![]()
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O curto-circuito
É o novo grito Urro em linha-de-terra Prumo sem sentido Angústia d’infinito. Quero dizer-te Quero, De uma palavra Ser o sopro O único fiel A alegoria plena O estágio Final Da perpétua evolução. Ser, mesmo, A Revolução. ![]() ![]()
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O digital
Está no menear da mão. O ciberparanóide S’aflige do eventual-certeiro Controlo De seu Grande-Irmão. A tecitura da realidade É trama que desfia Um palimpsesto constante De nóvel novidade De cega-rega sem parança De nó-cego em tardança Do gume, o fio, o fim D’aliança Entre o remoto passado E, d’inevitável, o incerto Porvir. ![]() ![]()
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O argonauta do obscuro
Foge da luz Renega o dia O argonauta do obscuro Vive em constante mania Vê no cosmo Urdidura Que desfia. ![]() ![]()
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Era uma vez
Uma nave espacial Que viajava pelo espaço Sem ter nada d'especial A não ser por um desvão Que continha todo o cosmo Onde vogava Uma nave espacial Que viajava pelo espaço Sem ter nada d'especial A não ser por um desvão Que continha todo o cosmo Onde vogava Uma nave espacial Que viajava pelo espaço Sem ter nada d'especial A não ser por um desvão Que continha todo o cosmo... (et coetera) ![]() ![]()
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Uma preguiça
De corp'inteiro Um torpor D'insofrimento Nem cortina Ou reposteiro Tapam A luz oclusa (em langor) de meu lamento. ![]() ![]()
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Ajuntai ao canto
Cavo Da terra O trinado D'arqutípico Pássaro. ![]() ![]()
Rima Cambada
A milimagens-por-segundo
Se vive neste mundo Rotundo, absurdo, Pensando, com tudo, Que o futuro já veio Aconteceu, morreu e foi pró céu. ![]() ![]()
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A névoa opaca
Que m'oprime O peso de ser E me saber. Mesmo se Pena Seria plúmbea Pluma. ![]() ![]()
La-bo-ra-tó-ri-o
Um unto viscoso
Uma mezinha esverdeada Um chá, Perlimpimpim, De raiz de mandrágora. Enquanto, d'enxurrada, Dá as horas A clepsídra Sem pinga d'água. E sais e pós e tirolí Benjoim e noz-moscada. Substâncias de uso confuso Em bigornas de uso contuso. E alambiques são mais de mil Um pra cada alor Assim dispostos Na Grand'Escada. Um grimório esmaecido Mui bem guardado Por tal quimera Desenfreada. E tubos e pipos E tonéis Tornos e torniquetes E galos e cabras, Negros, pra três Banquetes. E redes pra anjos E fadas E filtros e coadores Pra bílis, éter E outros humores. Uma retorta de nácar-perla Com arcana poção Já macerada. E tudo isso - e o mais qu'houver - Redunda em quê Senão em Nada. ![]() ![]()
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No pleno de mim
Sou oco. Pugnai, O nada libertado A indigência O enxurro do mundo. ![]() ![]()
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In the Land of Nought
The birds are not The sky is grey And the men ask “What???” But the women know what it is and what is knot. ![]() ![]()
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Copiai, em verso branco,
Os sentimentos dos outros Copiai, mesmo, os poemas dos outros Sugar seu doce tutano D'amargor é vida, Quadruplamente, quando se não tem alor se não tem fervor se não tem espera se não tem, ao menos, valor. ![]() ![]()
Do Poema Final
Quisera um largo poema
Como uma fuga de Bach De gongórico rendilhado D'infinda mesura contida. Na palavra um sôpro No sôpro um alor Nessa, mil-manhãs D'Estio ou ditosa Primavera. Mas a noite, d'anis Profundos e quantas auroras Houve na breve história Do mundo. E todos os pássaros, E toda a zoológica Variedade da Creação. Quisera usar linguagem chã Universal, total, radical Em sua peculiar & singela Declinação. E quanto de tempo? E qual a errância? E o muito que velar insone Batalhar inaudito, mil vezes tentado, Por segundo, por tanto poeta do orbe? Quando numa única extática fulguração O confuso do sentir e do sentir o penar Se faz claro e límpido e transparente Na sua mundana imanência Embora, então, não sejamos Já nós Conquanto albialada figura Que fala por nós Que diz aquilo que nos é Interdito dizer Que realiza o gesto Que é a cifra final Que marca a hora do novo começo De um tempo sem tempo Da obsolescência do ódio Da morte da guerra Da abolição da vária pestilência E de tudo o que magoa E de tudo o que mal-trata E de tudo que é carência. Quisera, a fim, alcançar o voo E nunca, nunca, nunca Mais Olhar Em vão. ![]() ![]()
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estou cheio d'essência
e, no entanto, já não sou. ![]() ![]()
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É naturalíssima a paixão d'indolência
Quando nitidamente se vê quão oco É o teatro do mundo E o ridículo de nós. ![]() ![]()
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Sofre a experiência da perda
E terás a decência de perceber Que não diferes, em tamanho e essência, Do mais humilde ácaro Qu'habite qualquer mundo de pó. ![]() ![]()
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A poesia é sempre um resto
Um vago ou exacto precipitado Daquilo que fica do dia Ou do muito da noite. ![]() ![]()
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Por ventura
Rezais Ao Deus-Maior Amplo como a noite Vasto como o mar Mas ágil como um gato? ![]() ![]()
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Quanto mais se lê
Mais se funda O artifício De fazer nossas As palavras dos outros. Porém, não tem mal esse destino, Nem ser néscio Nem ninguém. Só é pena este buliço Que, já vivido e melhor dito, Por outros, ser meu agora ainda. ![]() ![]()
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Sossego em ser banal e corriqueiro
Não inovar, disrupção já a tenho Que baste. Um jogo, Um jogo apenas. ![]() ![]()
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Eu tenho palavras de vento
Palavras de vento eu tenho. Vão-se com um sopro. Mas, que é a vida Senão isso? ![]() ![]() |