(s/ título)
Salvé, os três da vida airada, da vida doce, despreocupada. O tempo é deles, a vontade pura de quem não faz nada. Passeiam e cantam e jogam graçolas, plen'alegria e vivem d'esmolas. Comem o pouco mas bebem fundo que o tempo na terra só dura um segundo. ![]() ![]()
(s/ título)
Salvai o que ainda há para salvar e queime-se o resto. Viajar leve, sem impecilhos, é pensar avisado do bom viajante, mesmo que o seja contra-vontade. Expulso do existir prazentoso deste jardim repleto de flores furta-cores. ![]() ![]()
(s/ título)
Ansioso, perplexo entre o côncavo e o convexo. Era a música das esferas que m'acalmava tantas esperas. O que digo? Qual o nexo, quando se ama o Belo Sexo? ![]() ![]()
(s/ título)
Eu sei os teus seios de cor. Toco o teu dorso de corça ágil-sem-esforço. E, as coxas de rola, como coxins. Sorvo, todos os teus sabores, com a ânsia do maior dos amores. ![]() ![]()
D. Aduzinda
D. Aduzinda, aduza então suas razões, que neste tribunal é tudo gente de bem, sua amiga e conhecida. Até o Juiz de Fora, a princípio suspeito por não ser das cercanias, revelou-se um bom rapaz, sensato e pertinaz. Também não se preocupe de lhe cortarem a cabeça. Queira Deus qu'isso lhe não aconteça, mas se tal for impossível de evitar, vai ver que não custa nada, zaz, num suspiro se corta a goela, golpe escorreito feito a preceito, porque muito a estimamos e a D. Aduzinda merece toda a consideração e apuro do nosso algoz. Vamos, não se acanhe, diga lá, estávamos a falar das galinhas, sim ... eram gordas ... então, a D. Aduzinda... ![]() ![]()
Os Vermes
Um país assim tão pobre, de pantufas e de robe, que a riqueza se foi deitar para não nos aturar. É pobrezinho, miudinho, nas almas e nas gentes. C'andam muito deprimidas, muito assim, desiludidas, sem vontade na labuta. Quem quer ouro vai à luta, bate em todos e sobe bem e c'um pouco de cicuta, se vai ainda mais além. Força, trai o teu amigo, tira tudo o qu'ele tem. E, do pouco que sobrar não o dês a ninguém. Matem os vivos e salvem-s'os Vermes. ![]() ![]()
Ladainha do Bom Empregado
Ó farsola, és um estarola, passas sempre a brincar. Não dás atenção ao Chefe, o Deus na terra, que nós devemos adorar. Tens espinha, não és sabujo, mas andas sempre muito sujo. Não sabes (ou não queres saber) que o Homem é teu dono. Verga-te, seu farsola, ou te pego pela gola, e te faço bem pagar o tributo de respirar. Que aqui só há respeito, quem manda rebrilha e quem serve empalidece. Nunca ninguém adoece, nunca ninguém sequer espirra, pois ao Chefe se obedece, mesmo s'Ele c'o a gente embirra. ![]() ![]()
O Protegido
Se valia, noite e dia, tanta preocupação? Do cantar da cotovia até à hora do leão, era uma a gritaria, uma gran consumição.
«Ai meu rico, rico menino, só dás trabalhos, és tão estouvado e não aprendes a lição.» Bem, na vida, é ser sereno, avisado e prudente. Que os prigos são mais que muitos e não se deve ser indolente. Que será de ti meu petiz, quando nós desaparecermos? Sem dinheiro e sem trabalho, a viveres em sítios ermos. Sem ninguém, só, desvalido, pois não é à toa, que te chamam «O Protegido». ![]() ![]()
Cogita o Sábio Infeliz
Supérflua vã eloquência quando falta paciência pra sorver tanta ciência. Qu'a humanidade distraída está, em si, tão divertida a contar as estrelas, mesmo se já não pode vê-las. Praquentão tola vaidade, que dizer, oh, Felicidade, s'esta vida é um novelo de tristeza em atropelo? ![]() ![]()
A Lição d'Informática
Leia o ecrã
[com muit'atenção Aponte c'o a seta [e clique no botão. ![]() ![]()
Tomasses tino, ó Isaltino
Isaltino mui ladino, senhor de grand'abnegação. Não passava noite ou dia sem ajudar seu irmão. Criança rapaz ou velhinho, era a sua devoção. Pra acudir a humanidade vivia tod'essa emoção, até que tanta bondade lhe rebentou o coração. ![]() ![]()
(s/ título)
Sonhar acordado e viver assustado, em precária conjugação, ai, que grande consumição. Andando aí, por aí, a esmo, sem destino, temendo a todo o momento perder o resto do tino. E, no entanto, que vastos planos, que ébrias construções, vendo cidades nas nuvens e mundos e constelações, em meio dos momentos de pânico, tão belas fulgurações. ![]() ![]()
(s/ título)
Marchetado de loucura, esta vida d'impostura, que por são se faz passar quem é louco d'internar. Vozeirão adentro da cabeça: és feliz? E ninguém sabe, ninguém ouve, qu'ele, de facto, é uma couve. ![]() ![]()
(s/ título)
D'esostérica catadura, toda ela em desmesura, um Dragão de Singapura. E destrói toda a ternura, quando fere já não há cura. Fuge, fuge, vem aí qu'inda agora eu o vi. Vem com pressa de matar, vem tão lesto, é mau sinal, que ninguém há d'escapar. Pois, é com calma que vos digo: ficai em paz com voss'alma, contra este mal não há abrigo. ![]() ![]()
Recado
Aqui venho, aqui vou, c'o menino e c'o avô. Abre o olho na refrega, c'a morte te enxerga. Era fúria, justa e sã, era fome, era anelo, mas sem arte nem desvelo. E, tem cuidado c'o juiz, ouve tudo o qu'ele te diz. Que, mal sabes o c'acontece, se lhe chega a mostarda ... ![]() ![]()
(s/ título)
Um riso escarninho quando a prole pede pão. Figura austera, negra, escondida num desvão. E o rio passa, lodoso. Sorve o ar e sente o frio, em manhã de desilusão. Só invernos par'esta gente. Só tristeza e solidão. ![]() ![]()
A Arte da Guerra?
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Microstórias (extra-catálogo)
Sempre fora ensandecendo ao serviço da lucidez. ![]() ![]()
Venham Eles
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(s/ título)
Se fora pássaro trinava, p'la plenitude do espaço. Ora, se fora peixe, visitava as profundezas mais profundas. E se fora felino, rugia temores, nas presas. Como fui homem, sonho e cogito no que poderia ter sido. ![]() ![]()
Dos Dias em Sonho
Hoje, dia nunca de vária sentença, no acontecer dos sóis e o fusco em líquido e em musgo, serena, serena que há de passar, a lua é nova, acabadinha d'estrear. Mas os caminhos são ora, que é chegada a hora, p'la terra, p'lo mar, eis, finalmente, o despertar. ![]() ![]()
Cantiga da Gatinha Azul
Sou uma gatinha Azulinha Tenho patinhas de lã Sou uma gatinha Azulinha E durmo toda a manhã Sou uma gatinha Azulinha E faço ron-ron Sou uma gatinha Azulinha E brinco com um pom-pom Sou uma gatinha Azulinha Tenho um lindo pêlo Sou uma gatinha Azulinha Fofinho como um novelo Sou uma gatinha Azulinha Gosto muito de ti Sou uma gatinha Azulinha E mio só para ti Sou uma gatinha Azulinha Canto esta canção Sou uma gatinha Azulinha Com paz no coração ![]() ![]()
Fala o rico
Cheira sempre tud'a esturro, mas como tanto que m'empanturro. Ser assim rico e opado c'as vísceras do meu criado é fartança bonançosa qu'este mundo é minha rosa. Tudo é bem, tudo flui, sem escolhos, sem ai nem ui. Se tens grande mealheiro, recheado de dinheiro, és o príncipe da História, invejado por essa escória que labuta e vai à luta mas para quem a vida é... Adiante, já é tarde, vou embora sem alarde, mesmo sendo endinheirado aprendi a estar calado: há sempre almas, pobrezinhas, que me pedem esmolinhas. E eu, pra me não fazer rogado, corto-lhes logo as mãozinhas. ![]() ![]()
Dança a dois tempos
Cantem ora esta cantiga, força agora na modinha, ai que linda rapariga é trigueira e pequenina. Salvé Reis, imperadores e pedreiros e pescadores, todos juntos, uma voz, que todos somos pecadores, todos temos noss'amores. ![]() ![]()
(s/ título)
Daquela vez eu te senti, te chamei mas nem te vi. Foste embora na demora duma espera qu'é agora. Fiquei só, naquela hora, fiquei só, fiquei sem ti. Nesta espera e neste agora, sinto o peso da demora. Mas agora, na boa hora em que te vejo, te chamarei sem mais demora. Será est'hora que ouvirás o apelo, de quem chamou sem ser ouvido, de quem t'amou mesmo escondido, de quem esperou sem um ruído? Pois, sei-o agora, é com um suspiro que melhor serei ouvido. ![]() ![]()
Aos Gulosos
Hiperfágica creatura, o glutão. De hábitos vorazes, seu imenso apetite não conhece os limites que são impostos aos demais. Tanto assim foi (oh, por demasiado tempo, tragou tantas coisas preciosas) que tiveram de o prender. Manietado, de pés & mãos, não encontrou sossego e pôs-se a roer as correntes que o cingiam. Amordaçaram-no. Logrou engolir a mordaça. Prenderam-no pelo pescoço. Aquietou-se, pois que nada a mandíbula assi alcança. Desde então definhou. A sua imensa carcaça d'outrora é hoje pel'yosso, hedionda visão dependurada no cárcere. ![]() ![]()
Microstórias #10
«Não me consigo encontrar
[ passo por mim e não me falo.» ![]() ![]()
Milonga d'Aleijadinha
Sente a vida, sente agora, olha a lida em tu volta. A hora é já, é hora imota, à tarde é viva, à noite é morta.
Vai ou fica não s'importa, acorda triste, acorda torta. ![]() ![]()
A Hora da Salvação
Qu'é de minha natureza sentir esta tristeza. Avante Saturnino, vai salvar o menino, das garras de quem num lhe quer bem. Nula sorte apaga a morte em terra boa, em terra má. Veste o fato, põe o gorro e vai prestes em seu socorro. Oh, linda rapariga que vai lesta a passar, vã esperança acalenta de mui ora se casar. Salta o fogo, fuge agora, qu'inda te não hão d'apanhar. ![]() ![]()
Microstórias #9
«Tome xarope Fortil e tenha a força de mil.»
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Microstórias #8
A Esther e a Érica.
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Microstórias #7
O Dedo d'Aço
[ & o Língua D'oiro. ![]() ![]()
(s/ título)
Há, uma infinita tristeza em toda a certeza. No langor matinal (levanta-te, toma o café, compra o jornal). No rio, que já não corre para o mar. Passeia, perplexo, sem destino, sem nexo. Até que uma diáfana - oh, tão inocente - bola de sabão, explode em combustão, deixando a terra na mais pura & serena devastação. ![]() ![]()
Microstórias #6
«Oé, o Rei da rimas.»
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Microstórias #5
Estou em pão torrado.
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Microstórias #4
A Lucy Neide.
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