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Sendo apenas para ser, sem um quantum matricial d'alegria. Um raio de luz devassando a penumbra. Um sorriso inesperado. E poder-se-á, talvez, vindicar a existência. ![]() ![]()
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Sorve lenta e dolorosa. Dos passos contidos em espaços finais. Aprochega-te, ainda, da janela. Vislumbrai. Quem olha é olhado, aquele que avista para fora da quadrícula do quarto que incessantemente se contrai sobre a derradeira enxerga. ![]() ![]()
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Feitas as contas... Não porque não. Mas, feitas as contas, vos digo que... Não, não e não... O que quereis então? Se feitas as contas... A negação é a minha última palavra. Então as contas, as contas não vos interessam? Não. Pois seja. ![]() ![]()
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Julgais que sou louco mas tudo são fulgurações. Nesta vasta esfera, imota, de água primeva, onde o centro é qualquer lugar pois que a sua circunferência é infinita, não obstante, tudo flui com um suave e ininteligível propósito. Contemplando o nada viverei por evos ciente de que sou imagem de mim próprio. Ousam a isto chamar demência, quando demente é quem não vê, quem não vê porque ver não quer e se compraz em apodar de insano quem, na verdade, enxerga. ![]() ![]()
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Vejamos D. Teodósio, se vos consigo explicar a difícil situação em que nos encontramos. Os inumeráveis insectos, que tão bem nos serviam, decidiram pela sua autonomia. Agora, temos de negociar com a nação das formigas, com a das aranhas, e já outros aracnídeos menores pretendem fazer valer as suas diferenças. Não necessito de lhe explicar a importância dos ácaros na nossa já periclitante economia. O próprio Sol quer desorbitar de suas estritas e exactas competências, arrogando-se, sabe-se lá por que subversivas influências, pretensões heliocêntricas. Pois, por isso lhe digo, caro D. Teodósio, que a conjuntura é grave e não se sabe por quanto tempo mais resistiremos a tanto derriço, a tão profundas mudanças na ordem natural das coisas, a ponto de já se temer a queda do nosso tão estimado Império dos Botões em Flor. ![]() ![]()
Vem de Roda
Veste o teu fato de linho e entra na dança. Connosco tudo é festa e alegria, esquece o amaro dia-a-dia. Come e bebe, enche a pança, qu'isto é roda de grande fartança. Porquê andar cabisbaixo, triste, sem esperança? Mophat é nosso Senhor e diz-nos: regozijai-vos e folgai sem parança. ![]() ![]()
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Da inumerável mudança, do inconstante vento construí o meu império. Nem altos muros nem geométricas fortalezas o adornam, pois que tudo é fragmento e nada é real. Sou um Senhor do Sonho e, no entanto, permaneço insone neste deserto. ![]() ![]()
Quadra Popular de Autor Anódino
Não sejam desagradáveis
Pela Alma do santinho Deixem lá o fumador Fumar o seu cigarrinho ![]() ![]()
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Nada. Não me digam nada.
Não me falem dos campos floridos, nas manhãs de estio. Não vos quero ouvir. Não me contem das belas donzelas, passeando à beira mar, peles elásticas sabendo a sal. Minha é a noite, torpor o meu reino ignoto. ![]() ![]()
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Draculino draculoso
Pelo sangue era guloso Tinha um dente viperino Para sugar o menino Era feroz creatura Sem um pingo de ternura Cerrai todas as janelas Protegei vossas donzelas Qu'ele revoa pra espreitar Qu'ele s'esfuma pr'auscultar Qu'ele é fatal fascinação De quem tem puro coração ![]() ![]()
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De Jano Bifronte hei sendo et de lugar d'ambiguidades me coloco em para vós olhando. Sem desdém vos miro. Contudo, suspecto de toda afirmação que, de mi essência he la duplicidade et, per natural consequência, d'existir duplo em mi mesmo es mi destino. Et como eras hei vivido fiel a mi ser, escutai este conselho: qu'em toda la verdade s'acoita una dúvida et que todo lo verso terá seu anverso, exacto espelho de toda la realidade, todavia em reverso. ![]() ![]()
Testamento
Soergo a cabeça do leito para, por entre a penumbra dourada, espreitar o último entardecer. Pobre em tudo, não vos lego conselhos originais, apenas a certeza que nos é dado um tempo sobre a terra e que cada momento é único e irrepetível, engolido sem remição na voragem das coisas. Faço votos que esta corriqueira evidência vos apareça cristalina antes do vosso último entardecer. ![]() ![]()
Resíduo Soledade
Profícua soledade, he a mis olhos, lágrimas. Espavorido aí pelas ruas, ando, leixando os passos de vossa memória incólumes, sendo que ergo mis olhos para o alto. Nã, que nã o queira eu ver, soe que nã o posso lograr em vendo o que foi. E assi, passando a largo, he como se tal nã haja sido, guardando em esconsos, nos mais profundos recovos de mi alma, as horas dos dias que convosco privei, felicidade d'outrora. ![]() ![]()
Outras Frutas
Ai, que terrível transformação
De uma bela donzela Em um limão ![]() ![]()
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Salvé, dolicocéfala loira, em passos miúdos t'aproxegas trazendo novas de Vila Grande. Espero que boas notícias nos tragas. Que essa linda cabecinha não s'agaste com os problemas qu'esta cansada humanidade carrega sobre os ombros moídos desde que ao mundo foi dada a manhã. ![]() ![]()
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Tenho sono de gigante. Torpor imenso neste corpinho. Mas também tenho fome, fome de vida, de gigante. Em grandes dentadas abocanharia a existência se dentes tivesse. ![]() ![]()
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Angulosa vitupéria, mondando os campos de raiva miúda. A daninha que tudo apagará em passando. E, gentes e bichos fogem dela, oh se fogem.
Se as crianças são avisadas inda no colo da mãe, os velhos cantam histórias da Bruxa dos Olhos Negros que traz a morte e o desdém e de como quem topa com ela perde o juízo também. ![]() ![]()
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No Refeitório
Uma sopa, uma sopinha prá minha pobre barriguinha. Que a minha triste pança nunca conheceu alegria, nem fartança. À míngua ando eu, foi a sorte que Deus me deu. Sou pobre, indigente e ando sempre doente. Tal a fome e o desespero que vos peço com esmero: se me derem uma esmola faço já uma festarola. Vejam bem, eu sei dançar, pular e cantar, pla graça duma côdea! Que mais querem de mim, se sou saltimbanco de jardim? Que me falta inda fazer? Já dancei e já pedi, uma sopa, uma sopinha ou talvez uma sardinha. ![]() ![]()
Alexander
Alexander, com alegria,
olhava uma linda cotovia (piu, piu, piu). Apontou, disparou (pum) e o passarinho rebentou. ![]() ![]()
Em Festa
Elegantemente despidas
Todas nuas Elas andam pelas ruas No belo Festival do Luar Onde toda a mulher Se dá a quem passar ![]() ![]()
Messimbá
Que virgulência Messimbá
A rima de cima foi pró sofá A rima de baixo foi para lá E a do meio deixou-se ficá Que virgulência Dona Sinhá ![]() ![]()
Poema da Dor
Oh, matéria putrefacta dos sentidos
Ferozes sentidos do imaginado Matéria deletéria do sentir. Nicoménios, tenebras-orto-necrotéricas, Necroferreas, nimbolépticas em volupcias De esganoflesmias. Cinzas, em cinzentos mergulhando Nos mesmos. Porque. ![]() ![]()
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