Paraíso
Vastos campos, tantas flores, no jardim de mes amores. Águas puras, cristalinas, onde se banham as ninfas com sorrisos de meninas.
E, à noite, pla noitinha, dançam cantigas de roda, em suor, oloroso d'estios, pelo mare nostrum dos corpos esguios. ![]() ![]()
(s/ título)
Oh, vagas alterosas d'alegria. Vagas tormentosas d'esplendor. Os raios dourados do Sol alumiam o percurso e este se estende sem escolhos, sem uma pedrinha sequer que perturbe o caminhar do caminhante a caminho da redenção.
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Ai, ai, meu menino
Tomatenção menino João, rapaz demonhado, estuda pra ser doutor. Não fiques praí um desgraçado.
Abre a pestana, apruma a cerviz, é teu amigo quem to diz. Cuidado c'oas más companhias e mulheres, nem vê-las, que são a perdição dum bom cristão. Mais tarde, na vida, encontrarás tu noiva. Moça escorreita e casadoira, um esmero, trabalhadoira. Porfia, João, porfia no bem, são os conselhos de quem te quer bem. ![]() ![]()
Bestiário Imaginário
Andava cansado.
Era um vampiro de paz Com os dias mal dormidos. ![]() ![]()
Economia
«As sapatilhas põem ovos
Os ovos transformam-se [ em humanos E os humanos compram sapatilhas.» «Não tinhas que ir comprar umas [ sapatilhas?» ![]() ![]()
(verde)
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Avarias
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Urtonomias
Que vai, que vem
Quem sou ? Quem tem? Aonde, meu bem ? Quem vai, Quem vem. O sonho quem é Olhas até ... Força de cem. A terra aonde A terra que vem Saudade de quem, Meu filho, [é Quem vai, quem volta Da terra, que tem? Cidade, maldita? Eram, à volta de cem. Ú Que volta, que sem Que nota De cem. A vida vai, a vida que vem Quem tem? Quem é, vem, Quem volta, Que é o bem Da volta de alguém. Urtogonias (Os iluménios, ao sabor do silabário). ![]() ![]()
(Telegrama)
«Partam garrafas em mulas STOP
Partam em mulas não partam garrafas STOP» ![]() ![]()
Bilhete do Brazil
«Mulher do coração Aqui te mando um tostão Pra que comas e que bebas E que pagues a quem devas Mas não digas à vizinhança Que te mandei dinheirama Que te podem roibar.» ![]() ![]()
Abecedário Abreviado
A Aaaaaah. Ááááá! Ah. Haaaã ... Ha. «-Hã? -Haaaa ... !» Ha-ha! Ha ha ha. «-Há? -Há!» (...) ![]() ![]()
(s/ título)
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Queixume
Quero é festança, muita alegria e fartança. Quero é ganhar. Muito dinheiro amealhar.
Inda se tivesse uma ideia, daquelas que são minas, podia ir às meninas, sem nunca me preocupar. Mas no estado em que as coisas estão, ninguém me passa cartão (e as ideias, já as tiveram os outros). Ainda há autores prolixos, desses que vendem tudo, até a mãe, que tratam com desdém. É um vê-los publicar, volumes e tomos sem parar. Vendem tudo, os maganos, são piores que ciganos. E sabem vender, e sabem fazer muitos amigos, pra entreter. O pior, contudo, é quando tiram, d'um canudo, ideias já prontinhas, bonitas e fresquinhas, mais ou menos originais ou tiradas dos manuais. Meteoritos culturais, vendem bem, livros ou jornais. Esses, e outros que tais, vivem mesmo bem e é demais. A mim é que não me calha a sorte, mesmo trocando o passaporte. É sempre um tal penar, escrevendo sem parar... E vivo pobre, sem um tostão pra gastar! ![]() ![]()
Vladoric
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Raftã
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Ná Nada A Fazer
Nada sabemos. Nada a fazer. Nada sabemos fazer. Por isso escrevemos este dizer, do tanto que nos resta aprender. E fazer. A ideia esvoaça, voa e revoa. Vai depressa, que o teu pai está em Lisboa. Não quer ser apanhada (a ideia que voa) mas pla escrita é fixada (mesmo assim, à toa). Escreve asinha, antes que vá (mas para onde?) a ideia qu'inda é boa. Já foi e nada ficou, tens de ir perguntá-la ao avô. Que tudo sabe, que tudo ensina, ao menino e à menina. Uma ideia, até pequenina, vale tanto como uma mina. Quem dera saber. Quem dera fazer. Quem dera saber fazer. Ideias não há, nem se gemer, que nada faço ou sei fazer. ![]() ![]()
Civitas
Curioso, o desquite, que acomete o ouvinte, entre o fluxo do pensar e a força do tanto sonhar. Com verduras verdejantes, suaves, aliciantes, ante o peso do betão, cavernoso cancro... do pulmão. Da cidade aberta, da vida desperta, livre. Onde vivemos, Jesú Senhor, parece um Reino d'Estupor. Não há lugar pra meditar, escrever versos d'alindar, a alma e o corpo, que das simbioses, há muito que passou o tempo delas.
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Finger Boy
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(s/ título)
Variolosesmias. Andai mais em correrias, e terão esse achaque, que irrompe com um baque em mirabolante ataque ao sistema cerebral. É um terrível mal, que acomete os insensatos, quem não espera nem porfia, quem não ama, quem não olha para a chama da poesia.
Derruba a civilização, do pensamento chão, e, por contraposição, o poeta passa a são. Mas a cura não demora, é milagre duma hora, impedi toda a acção, entrai em contemplação. Vivificante inação que sara a cabeça, através do coração. Variolosesmias. Estais avisados, quem quiser desentender não venha protestar, estejam quietos e calados. Em fazendo como digo ficarão logo curados. Ou, porventura, pensásteis que era vossa a razão, anderem a desatropelo de toda a Criação? ![]() ![]()
Figura Sinistra
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Viajante
Berlimbimbim, toca toca pelo vão, da escada em construção, entre o reino de cá e as terras dacolá. Fora das vistas, para além do pensamento, que tal ponte é monumento a um Grande Entendimento. Essas terras que falei, governadas pelo Rei da Compaixão, têm cidades de Razão e outras d'Emoção. Mas não têm fronteiras, não para os Iluminados, que trabalham na Razão e veraneiam na Emoção. São assim muito atinados, pois vivem equilibrados. Vai daqui o viajante provar dessa repartição, viver um'aventura, de calma, ao País da Meditação. ![]() ![]()
Peixe Pois
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Fagulhas
Barlavotes Sapatinho, era estranha creatura, dava beijos ao ceguinho e cuspia na magistratura. Magester, o Rei desse Reino, perseguia o Sapatinho, chicotadas prometia, d'alto do seu arminho. Vai então Sapitinho, dá um chute nessa gente, pessoas com ar iminente, vacuidades plendorosas.
Açoites não são pra ti, incendeia revoluções, que ser iconoclasta assumido é assaz mais divertido, que fiel seguidor de gentes sem valor. ![]() ![]()
Desventura
Valente heresia essa louca simonia. Soe, tal não era de fazer, os cânones perverter. Xu, erat demónio, sai da cachimónia, dessa preclara raiz d'entendimento, que, se não, o Juiz das Consciências vai ter dia cheio e farto com a pobre criatura. Oh, desgraçada ventura, atroz desventura, ser assi cerceado nos bens mais queridos. Por ter pensado o impensado, vai a torrar sua semente da discórdia, em corpo inteiro, no Dia de Todos os Santos. ![]() ![]()
Flower Tops
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Mirabole
Mirabole mirabolante, um caracol vai ao volante. Futebol futebolante, o zé fic'ofegante.
Mirambolinho mirabolante, olh'á trompa do lifante. Cinco escudos e uns tostões, a tilintar nos meus calções. Mirabule mirabolei, eu fumei mas já deixei. Fui às compras c'a maria, jesú, que ventania. Mirafole mirafolado comi um gat'esfolado. E o estendal da vizinha pinga pinga na cozinha. ![]() ![]()
morrocco bird
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In media res
Sempre foi de molde a impedir que as coisas ultrapassassem um certo ponto. Não que a gravidade da situação não exigisse medidas extremas. Mas, enfim, como pessoa timorata e, até um pouco tímida, repugnava-lhe a violência, o exagero a que determinadas situações impõem ao mais pacato dos seres humanos. Mas tudo aquilo era demais. Teve de tomar aquela atitude, e ninguém se podia arrogar o direito de a condenar. ![]() ![]()
Flower Boy
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Retratos do Café
Que mulherzinha engraçada
Fala muito e não diz nada. O velhinho coitadinho Suspira (mas muito baixinho). O empresário arrogante, Entrou & saiu De rompante Uma senhora com dois cães, Eram pastor-alemães. Muitos a ler o jornal A saber: Morreu o Cunhal. (Lisboa, 14/06/2005) ![]() ![]()
(s/ título)
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A Lição
Não custa nada aprender a rimar
Basta pegar nas palavras Que andam no ar. Basta pensar Que as queremos a rimar. É como viajar Pela música de um mar Em que o porto é o rimar. E assim nasce um verso Que da vida é o anverso. ![]() ![]()
(s/ título)
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Eu
Eu, aquele que será e que no entanto precede o tempo, vos diz que não deveis temer a queda e a vertigem dos abismos, pois o grito e a fúria pertencem-me e o grito e a fúria retornarão porque tudo volta à sua primordial essência e a queda revelar-se-á imota pois que aterrarei no sítio de onde caí e então libertarei o grito e a fúria para que todos também se libertem e respirem a lava que encherá os pulmões ansiosos de vida e se entreguem à dança orgiástica da vida que assim, livre, finalmente livre e plena da sua potestade, alastre a toda a matéria. As causas da minha queda, há muito esquecidas, tornar-se-ão presentes a cada um; nem isso tendes a temer. Regozijai-vos pois. Sentis o sangue a latejar-vos nas têmporas com a iminência da queda? Abandonai-vos a todo o frémito, não temeis, que nos meus braços vos levarei para os esconsos do que é, para comigo poderdes renascer, vivificados com o calor de mil sóis e refrescados com o sopro de tundras mais extensas e gélidas que a compreensão pode abarcar. Sofrereis os mais violentos prazeres e gozareis das mais refinadas dores, que mais podereis querer? Vereis, que quando vos aproximardes do fim, quando o solo se fizer de novo próximo, sentireis que tudo se conjuga num espasmo de entendimento de um segredo apenas possível para vós. Já tudo está mostrado, fechai os olhos e abandonai-vos a mim. ![]() ![]()
Diz o Burro
![]() Vem depressa, vem asinha que agora mando eu, disse o burro ao patrão, que subi de condição, agora sou eu o patrão. Vais tu, andar de roda, puxar pela nora, alombar co'a carga, que nem sempre serei escravo, servo dos teus mandos e desmandos, chegou a vez d'eu folgar e a vida enfim gozar. Vós homens sois arrogantes, passeiam-se por aí impantes, os donos da criação, mas nós os jumentos também temos coração. Agora as coisas serão diferentes co'esta minha decisão... (E o asno só se calou quando o dono a cabeça lhe estourou. Que um burro a falar só tem graça até fartar.) ![]() ![]()
O Longevo
Si vou he si andando per arte et sortilégio, como vá que não fora antes per lo reyno d'alter vida. Soe preciosas vossas virtudes, soe veramente d'avisados vossos prestes conselhos. Et, per graça del Senhor nostro Pai, hei resistido todo este tempo às investidas del tempo. Que seja per breve et bem vinda la conjugação de los corpos del céu, que tragam las novas que todos auspiciam. Será sinal que hei de por ahí ficar outro tanto, em gozando de toda la saúde que ora me serve. Jesú, que confusão que pera ahí vou palrando. Mas, nada por nada é em demasia para alcançar tão bonançosa longevidade. Que los augúrios de los astros, que las bênçãos do Altíssimo et vossas mezinhas, todos em conjugação et cada uno de per si, me façom el favor de una longa et suave existência debaixo del Sol. ![]() ![]()
(s/ título)
Sempre em passo hei andado, Orguna. Sempre em espera, fora eu outro e tal não seria, mas vós, cuja palavra é lei, sabeis isso melhor que ninguém. Nem seja preciso vos contar, calculo que bastaria um vosso olhar para lobrigardes meus infortúnios. Toda a sapiência vos pertence, também o conselho e a vidência do que há de ser. Pois, se vos for permitido, que desvendar o porvir não é coisa de pouca monta, dizei o rumo que hei de levar, Orguna Silomata, Silomatinha. ![]() ![]()
Ascâmbio
Ascâmbio, logo entrou na casa de câmbio, constatou (Ascâmbio era bom a constatar) que os cambistas, sempre tão circunspectos, executavam um fino e delicado bailado por cima do balcão. Boquiaberto, inquiriu o Cambista-Mor a que se devia tão estranha prática. Obrigado a suspender a pirueta, o Cambista-Mor olhou-o de soslaio, ajeitou o tutu e respondeu: então não sabe homem de Deus? Há festa aqui na repartição. Comemoramos o dia em que o dinheiro se há de transformar em pão! ![]() ![]()
(s/ título)
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Ms Mirot
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(s/ título)
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Nickette
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(s/ título)
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#5
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(s/ título)
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Dádiva
Ter uma ideia fixa dá obra mais prolixa. Se o muito fazer não é sempre bem haver dá muito mais prazer, ao escriba zeloso, escrever só pelo gozo. Linha a linha, com devoção, o poema em construção dá alegria mas não dá pão. Oh, triste poeta indigente que, em grande consumição, pede um'esmola a quem passa, tem obra tão vasta mas não tem um tostão. ![]() ![]()
Da Pintura
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(s/ título)
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Ruibarbo
Ruibarbo, o glabro, dava saltinhos
Pulava alegre c'os outros maluquinhos Salta Ruibarbo, salta pocinhas Ri-te, ri-te, plas alminhas Sapatos de bico magoam os pés Salta, Ruibarbo, de frente e viés Sopa de pedra, com carne e com pão Salta, Ruibarbo, soldado, ladrão Pula, Ruibarbo, com força do chão Viaja plo espaço da solidão Upa, upa, cavalinho A trote Ruibarbo, devagarinho As estrelas, Ruibarbo, toca-lhes co'a mão Dum pulo, Ruibarbo, prá imensidão Voa, Ruibarbo, plo céu azulado Pla noite tão escura, Sem uma fissura no céu estrelado Ruibarbo saltou, Ruibarbo pulou E tão alto chegou Que a esta terra Já não retornou ![]() ![]()
(s/ título)
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Poema dos Tons
Salovícero inquinela que és tu e que é dela?
Sibarinho soromelho só queria ver-se ao espelho. T'arrenego Satanás que sei do que és capaz. Visceremos rantamplan custa acordar de manhã. Histomena Zenofrário tem fome aquele operário. T'arrenego Satanás que sei do que és capaz. O rico no seu corcel, Com um bigode de papel. T'arrenego Satanás que sei do que és capaz. Xi, longinqua soledade o mundo é cheio de maldade. Xu, morte e tristeza quero amar a beleza. T'arrenego Satanás que sei do que és capaz. Banir aloqua holade viva toda a liberdade. Solir amir agipano não vou cair no teu engano. ![]() ![]()
(s/ título)
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A Coruja
Orguna Silomata avinde em chegando, ortoa aí por aí vossas pertenças que a nossas expensas te a leixamos aí ficar. Non que seja gran acomodância mas vós sois em aparecendo muy humilde et muy serena em aparecendo assí atavianda. Vos precede gran fama de sapientia et de vária virtude em sendo no pensar et no dizer o que é de vera prestança. Queira vós nos acudir a nossas gran afligências que carecidos hemos de toda a sapientia, que vós hades falar o bom. Et, em retorno de vosso acudimento hayemos de vos dar vitualhas e de beber, que non só de sapientia vivem as carnes que em hayendo de sustento cogitará em bem melhor a alma. É pois, seja bem aparecidda em nosso muy humilde tugúrio et que seja, hem sendo, por bom tempo vossa parança. ![]() ![]()
Oaristo
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O Assustado
Ah, fera ferina de língua viperina que m'estás a acuar. T'escondes te mostras. Me segues de perto d'olho bem aberto, de garra afiada pronta para matar, sorriso d'assustar. Inda agora aqui te vi, inda já dali fugi.
Não terei descanso enquanto andares no meu alcanço? ![]() ![]()
(s/ título)
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(s/ título)
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(s/ título)
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Salada
Duas bananas refrigeradas
Presas no frio congelador Sonham, mal agasalhadas, Com os calores do Equador Uma pêra & meio sorriso Têm tudo o que é Preciso (quando veio da ópera) O melão, um tipo bonacheirão, Morreu de desilusão Ao ver rebentar Uma bola de sabão E a boa da maçã Promana alegria de pomo Logo pla manhã ![]() ![]()
(s/ título)
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"Aaaaah"
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(s/ título)
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Momo
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(s/ título)
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Poemação
(homofonopoema) Poema sim Poema não Fonema em mim Poema são ![]() ![]()
(s/ título)
Meu menino Jesus, a tua beleza reluz
E se aos anjos seduz O que dizer então Deste pobre cristão Deslumbrado por tanta luz? ![]() ![]()
História Moral
Sopinha de mel. Bolinho de côco, meu doce confeite. Aparas de chocolate são os teus olhinhos (derretidos sobre os meus). Glucose pura teus beijos, doçura, são d'imensa ternura.
D'osmose vivo, em ti, meu torrão d'Alicante, meu mousse de mimo, laranja doce que nunca amarga, que escorre seu sumo pela ilharga, fina e recortada, gomo elegante, ágil e possante. Saudades d'açúcares quando t'espero, dos mil mimos de mel, do sumo docinho qu'é o meu amorzinho. Tanto te amei, meu doce meu bem, que diabético fiquei. E assim é o fim, pois tu, de tão doce, terás de ficar bem longe de mim! ![]() ![]()
Das Frutamores
Fugi do azedo limão
Mas abraçai o rotundo melão E se o pêssego tem pele de menina Será, contudo, o marmelo A quintessência feminina? ![]() ![]() |