Diário da Peste 17/3/2020 (primeira parte)
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O que falhou? Basicamente, tudo. Sabia-se qual o potencial destrutivo desta peste porque, pela análise e experiência de outros surtos virais recentes, conheciam-se todas as principais variáveis. Com modelos matemáticos de propagação, análises genéticas de vírus da mesma família, compreendendo os factores ecológicos, demográficos e sociológicos que permitiam ao vírus, estando num reservatório animal, ultrapassar a barreira da espécie para infectar os humanos e a partir daí propagar-se pelo orbe devido às viagens aéreas transcontinentais. Com toda essa informação chegou, por exemplo, a propor-se a investigação e desenvolvimento de uma vacina genérica contra esta família de vírus que, depois, seria muito mais facilmente adaptada a este agente em concreto. Ao que parece, neste caso, decidiu-se ignorar esta pesquisa de base porque não havia nela uma expectativa segura de lucro, até porque esta pandemia era só uma possibilidade. Assim, os laboratórios que estavam interessados nessa investigação não conseguiram captar os fundos necessários para se chegar a um resultado útil e agora corre-se o risco de só se conseguir uma vacina tarde demais. Por isso, houve a falha de um complexo científico-farmacêutico totalmente submetido a um hiper-capitalismo hegemónico e totalitário. Também o Estado Chinês, politicamente totalitário (em vias de se tornar a primeira tecno-distopia) que pela lógica perversa de um regime musculado decidiu, ao que consta durante 20 dias, ignorar o problema dando origem a um surto de uma violência e de uma gravidade sem precedente nas nossas vidas. Depois, houve a completa desorientação das democracias ocidentais para lidarem com uma crise pandémica. Era por demais conhecido que as sementes desta peste seriam disseminadas pelas viagens aéreas e só quando foi demasiado tarde se começaram, um pouco por todo o mundo, a proibi-las. Aceitar o desastre levou tempo. Um tempo precioso que custará caro.
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