Diário da Peste 15/3/2020 (segunda entrada)
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Assistir a um desenrolar rapidíssimo de um apocalipse (de um ambiente apocalíptico) enquanto se dilata o tempo para a solução que só acontecerá quando a peste seguir o seu rumo ou a ciência, em contra-relógio, conseguir uma vacina ou uma terapia. Há uma perversão da temporalidade comum: o terror do isolamento, da escassez, do bio-fascismo, do tédio, o imenso tédio de não poder (de não dever sair à rua), significa que é a instalação da temporalidade da peste que é de angústia e ansiedade radicais.
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Uma questão fundamental: até quando, qual o prazo em que é possível manter a paralização total das cidades, dos países, de toda a colectividade?
Quando são decretados os estados de emergência são colocados nas ruas os meios repressivos dos Estados. Quando tais medidas se tornarem insustentáveis poderá haver toda a sorte de conflitos entre a sociedade civil (ou os cidadãos individuais saturados de isolamento) e as forças de autoridade ou, mesmo, entre cidadãos. Ainda que se cumpram os requisitos de limitação temporal desses estados de excepção, caso a epidemia se prolongue, o que acontecerá? Chegaremos a um estado de indiferença pelo desespero, em que as pessoas prefiram a peste à paralisia?
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