(s/ título)
Então tirou o chapéu. Já era de resto tempo. Não fazia falta e se fizesse isso não impediria que um acto sempre banal como é tirar um chapéu se mostrasse naquela peculiar circunstância absolutamente essencial para salvar o vasto orbe. Que por mais torpe que nos pareça é tudo o que temos. Já a bengala de todo em todo trivial objecto a mantém sempre consigo acerta por ela a cadência do passo incerto embora seja sob o pesado manto d'irreprimível juventude. O céu pelo contrário só na aparência aparece como todos os céus. Tem contudo um bestial amplexo com o derradeiro da cidade nas fímbrias d'esquecimento. Reparaste por certo na macabra figura que da escura esquina nos segue e vigia. Falta-lhe o maxilar inferior e dir-se-ia um cadáver não fora o ligeiro movimento que um arguto observador lhe consegue descortinar. Não importa nunca s'aproximará o suficiente para representar vero perigo e de resto prende-te a atenção o reflexo impossível das poças que de largo a largo preenchem o solo ressequido d'estio. Mergulhou, há pouco a sobredita bengala sem tocar o chão empedrado. Depois o braço e ainda assim não s'encontra o fundo mas sente-se algo de múltimo e vário no milimétrico lençol de um líquido que nem toda a boa-vontade poderá chamar de água. Apressa-te, o homem tirou o chapéu.Mas agora que ele vem qu'estacou e andou e é já ido não se desfez o mistério é preciso cavar mais fundo decifrar o impossível. E que tamanho sarilho o chapéu a figura sombria que nos espreita a bengala que penetra na calçada lisa o homem que anda. Apressa-te, o homem se nos foge da vista. |
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