olho vivo & pestana aberta

muito esperto

louvai e leixai quedar-se em santa justiça senhor, que tamanha lhaneza não tem nem haver se pode em justa medida. assim como a feroz escarninha linguagem da gente e dos homens que entorpece o audível sentido com assaz viperina pertinência em malamor por quem, de todos, se faz a mais ingente d'indefesa inconfessa singela candura.

Pode ser que um dia seja, faça, respire com todo outro desafogo; que a constrição, apertada d'asfixia d'assim ser como sou, me não permite diversa coisa.

Quereis vós, em terra de pouca fartura, mandar cantar o galo?
Ó, desafortunado, pois d’onde inté magra é a miséria, por todos os santos e bentas almas, rezando três seis novenas, não haurem o favor d’uma pinga d’orvalho ou d’espiga sã. Árida dura terra, sejam mais duras as gentes, moldadas no cadinho da provação que, por tanto e por tal, de ríspida e tenaz ordenança e cuidado não acolhem luxos e sedas.
Mas vós, galarí galaró, quereis cantigas.

D'ininteligível ao suave soar consubstanciante de miríficos murmúrios desse tanger, que nos permeia e a todos, onde, por virtude benfazeja ou aziaga, d'angustiados angustiantes passamentos, de quantos sóis (e luas feéricas d'alba e alvor) nos foram, desde os recessos mais esconsos do porvir, predestinados. E quanto de rio e de pó, desafortunada del Toboso, de feroz mas sábio contentamento, residirá nesse âmago perene que s'evade íntegro, à pertinaz e consabida corrupção?

Imperfeito na minha imperfeição choro e lamento, pedindo em compungido recesso a força que outrora foi dos homens e antes dos bichos e antes do semideus e antes do deus e antes do titã amargurado e antes da noite e antes da água e antes do navio silencioso e antes do átomo de nada do qual brotou a tartaruga que suporta o elefante que sustém aquele mirífico centípede que enlaça o que tão forte é que segura o orbe em suas já gastas espaldas.

Porquê aquela destinação - que sei?- e que sofre, pois se fica e se pára mas não permanece, diáfano manto d'escuritude ou luz d'alba pura irradiante? encandeia, então, e afasta a Cruenta convidando-a, aos supetões e arrecuas, a sair para o lado de onde, desde sempre, vai, daninha a ceifeira, e vem, do puro em antes do tempo tempo ser, mordendo os calcanhares inté ao alto d'espinhaço, d'humanas anelantes creaturas.

De sauve sentir nunca &, já sem espera, me dizem que era de prever e porque não? Onde s'acoita a suavidade nest'aspereza instante, que acertar (no que seja e pra que veja) não é comigo. Não é, foi ou será, acrescenta unissonamente quem m'escuta. Queres, ademais, ser alguém? Tu que não vives nem és, almejas a ser, e não qualquer coisa, ou pedra ou escopro mas gente de própria e altiva figura. Falar e dizer, opinativo, isto fica, isto vai. Menos que chuva és, gota evanescente, sopro de brisa de mar, mal se sente e se não vê. Onde o lugar neste mundo?