(s/ título)
Rapazinho rapazolas tu não vais viver d'esmolas. Qual agora ser poeta, passar teus dias em descoberta. Vais é pegar na caneta e cumprir a tua sina: leixar a imensidão por um lugar na Repartição. ![]() ![]()
Raposices
Raposino Rapunzel c'oa donzela no dossel. Fuge agora Rapunzel, fuge nest'ora, mesm'em tropel. C'o Pai, o Irmão e o Capataz, boa tenção não os traz. C'a vingança é Zas Pás Traz, quem à dama mal le faz. E, mesmo sendo bom rapaz, eu bem sei do qu'és capaz. ![]() ![]()
(s/ título)
Podes leixar sem remorso, inquieta e doce alminha, o teu cansado irmão corpo. Esse que, apesar de teu esforço para lh'insuflar os elementos da vontade tão egoísta se revelou sempre, com seus achaques e as reclamações próprias de quem se compõe unicamente de matéria. Nunca o ingrato demonstrou compreensão pelos teus anelos d'inefável. Jamais sequer lobrigou que para o conjunto s'elevar teria ele d'aligeirar o seu peso de carne. Não estejas, então, em cuidado. Ele, agora carcaça, irá decompor-se para que os seus elementos constituintes se recomponham noutra forma, animada ou inerte. E se, não obstante, vieres a sentir saudades, tem presente que, quando finalmente, nas inumeráveis transmutações, ele for chamado a integrar o pó das estrelas, vos será permitido o diálogo, mas dessa feita, com uma afinidade nunca antes experimentada. ![]() ![]()
(s/ título)
É só quando os passos soam a retorno c'a gente s'inquieta. Se a direcção é a da saída tudo s'afigura pelo melhor. Mas, se o movimento tange a inverso, já os calafrios s'instalam, embora não sem a'sperança de um bonançoso remudar d'ideias pois, s'assim fosse, como d'anterior se mencionou, s'iria, pela mesma porta, este tão incómodo aperto. ![]() ![]()
(s/ título)
Nestes labirintos se perde a gente sem saber como. É num ai. Uns passinhos para a frente, uma curva em cotovelo e já se não sabe arrepiar caminho. É certo que se encontram alternativas, novas veredas no dédalo em construção. Mas não é a mesma coisa. De tal modo que se não consegue deixar de cogitar na hipótese de, conforme vamos andando, o percurso se ir esbatendo e apagando às nossa costas. Por outro lado, nunca tive o ensejo de o constatar apesar de, muitas vezes, ter sentido ou pressentido tal anulação roer-me os calcanhares. Mas, compreendam, nunca tive coragem de, num repente, me voltar e surpreender esse terrível e laborioso abismo. ![]() ![]()
Tropelinotas VII
Pobre Sinal Reticente, no afã de pôr na linha o Ponto Final, se não lembrou que, para lá deste, s'encontrava, tão só, o abismo. ![]() ![]()
Silabário Compositivo
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Tropelinotas VI
Bem nos disse o Senhor Doutor que pra lhe passar est'estupor ou era com muito amor ou c'um susto de pavor.
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Tropelinotas V
S'um caderno é vagabundo, e voga d'ideia em ideia sem qualquer fidelidade, inda é coisa deste mundo ou janela prá insanidade? ![]() ![]()
Tropelinotas IV
Jesú, Jesú, tu qu'és vera potestade, torna o fluxo em refluxo na clepsydra da saudade. ![]() ![]()
Tropelinotas III
O anelo plo chinelo só pode ser ideia de pé. ![]() ![]()
Tropelinotas II
Um tareco, dois tarecos, três tarecos, todos miam, patarecos. ![]() ![]()
Tropelinotas I
Trampolinotas, tropelinadas, um quarto de farófias, outro tanto de basófias e o resto... encher com natas. ![]() ![]()
(s/ título)
Que lindo, lindo peixinho, qu'está a navegar. Onde este peixinho irá parar? Nos largos oceanos se pôs a nadar, em busca da esfera do Santo do Mar. O graal dos peixes irá encontrar ou, distraído, deixou-se pescar? (E na travessa o verei, de papo pró ar?) ![]() ![]()
Silêncio, por favor...
E a fome e a sede d'esquiva serenidade? C'o mundo é vasto de maldade, de fragor e de alarde. Dos ruídos vãos da fervilhante insanidade d'esta estrepitosa humanidade. ![]() ![]()
(s/ título)
Deixem-me. Deixem-me dormir. Que o sonho d'um só limbo se revelará mais vívida existência qu'este sonambular de pestana aberta. ![]() ![]()
Canto em Oração
Flores s'alindam no teu altar. E tu, flutuas dessa lindeza. Se chover o amargor natural ao que é vivente, aplacando a fúria com desvelo, anulas a tortura e o anelo. Pois, a morte em vida convertes, no derramar da pura frescura dos ciprestes. ![]() ![]()
(s/ título)
Pois, s'eu tenho o Livro Azul da Barbárie. E é um tal começar a partir tudo, destruindo o que se interpuser à minha passagem. Sempr'a rir, c'o ignóbil ri, ri muito, sobretudo a despropósito, ou, de propósito para s'ignobilizar ainda. Que nunca é coisa pouca, ser-se deste jeito, sem um trejeito, aliás, que denote o aturado e vasto estudo destas matérias d'aterrar o próximo e, queira a fortuna, também o distante. Tão só s'espalhe a notícia que finalmente aconteceu o que tantos temeram sem coragem sequer d'o admitir, a saber, que o ignoto possuidor do Livro se revelou, ao cumprir os abomináveis e azuis ensinamentos. ![]() ![]()
(s/ título)
Um maluco matutino
Acorda cedo mas não com tino Pela alba, de manhã, Alevanta todos com seu afã De falar e de dizer, O quanto está a sofrer Pois tanto dói E se magoa A alma pura que perdoa ![]() ![]()
(s/ título)
Em passeio, tod'impante com seu apodo, o Craque das Cricas. ![]() ![]()
Umplüff
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(s/ título)
Envereda pla verdura ou prefere-a mais madura? Que há de tudo, benza Deus, pra cristãos e pra judeus. ![]() ![]()
(s/ título)
Vejam, agora, sem demora, se é desta que vou embora. Exaurido, combalido, cavalo cansado a ser abatido. ![]() ![]()
(s/ título)
Do fonema, do morfema, da palavra, p'la metáfora, ao poema. E deste, em transconsubstanciação, se abrem, apertadas ou de vasta imensidão, as razões imaginadas por qualquer cosmovisão. ![]() ![]()
Frut'amando
Furta-cores, furta-amores, fruta-amores de todas as cores. O amor é amplo, de vários alores, acolhe a beleza de muitos sabores. ![]() ![]() |