O Estrangeiro
(Viciosa era a peçonha de tão estranha criatura).
Sus, que nós da vossa igualha num somos, nem cremos ser nem queremos ser. Pois que portanto, vária maldade tão lata que conspurca até o ar, e as águas inquinam ao vosso mais ténue bafo. Seja. Se é nosso destino, nosso mal fadado destino, vos ter por vizinho, ficai aí nas orlas, que a nossa aldeia é pequena e convém não assustar as crianças ou, os que de entre nós soem mais débeis, que não é o primeiro infeliz que ensandece ante a vossa presença. Assim como assim, vos pedimos que saia só após o crepúsculo, que nós por cá nos encarregaremos de ter as casas fechadas e vedadas. Podeis passear à vontade e o tempo que vos aprouver, desde que nas horas em que o Sol não alumia. Quanto à água e à comida, não vos preocupeis. Terá, todas as alvoradas, à porta da sua habitação (não ousamos chamar-lhe casa) o necessário ao vosso sustento. No mais, não nos procure, não nos olhe e (se possível) não nos ouça, queremos nós que a vossa vida e pois que, por consequência, a vossa estada seja breve, tentaremos (no possível) esquecer que vós existis, e, como medida de precaução, quem vos enviará as vitualhas será o mais pobre e o de mais baixa condição de entre nós, para que (se é que tal é possível) os demais se não contaminem com as vossas emanações. Somos um povo forte, há muito que aqui estamos. Saberemos suportar mais esta provação. ![]() ![]() |
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