30 março 2010
(s/ título)
Não há intensa memória que não projecte o fantasma e a esperança do olvido.
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29 março 2010
(s/ título)
De humor d'aluvião, brinca o poeta com o som. Faz-se tarde embora nunca tenha existido o compasso da hora imensa, irrepresa no seu alvor. Minto: a tarde de verão da infância persiste vasta d'infinita, tão eterna & perecida.
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28 março 2010
(s/ título)
Ouve: do soar a hora até ao final do tempo transcorre aquela eternidade que parece ínfima. Sendo os rios fios inermes, sendo o mar apenas um lago, sendo a vasta montanha, montículo de terra e lixo. Sufoca-se debaixo deste céu, debaixo de todas as estrelas agonizantes. As gentes desvairadas e desabridas nos modos e na palavra. Tudo é vão como sempre foi e o derradeiro não acrescenta nada à estagnação universal. Pensais que o apocalíptico apontamento é fruto da derrisão da alma, apenas, no entanto, s'afirma que o último dos homens não quer persistir, que mesmo o cosmo se cansa e que o olvido é, afinal, o moto perpetuo, aquilo que apenas importa quando o mais soçobra.
Enquanto isso, respira & goza, aprende os caminhos da amizade, joga com as cambiantes do ser como o antigo lançar dos dados.
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27 março 2010
(s/ título)
sois a capa que protege da escuritude. Sois o bálsamo...
o povo do Sol assim te chama e pela manhã frorida ofertas a graça de uma presença, benfezeja e perpétua porque quando estás s'aparta qualquer fantasma da fer'ausência.
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26 março 2010
(s/ título)
O Bar Limite bordeja o nada. A Grande Extensão branca-vazia que tem como única característica o ser maior. Lá, ao fundo da sala, s'encontram os muito-ricos, em espera de matar o tédio, os desvalidos desencaminhando a esperança. As mulheres revivem o passado e os homens divertem-se no olvido. Tudo é mole no fofo dos sofás. Todo o som, assim, abafado. Os clientes sussurram bebidas impossíveis aos criados porque ninguém ignora que ali qualquer devaneio se concretiza: os improváveis licores têm a sua aparição ao compasso do bailado irrepreensível de quem os traz: o lugar faz jus à sua fama.
(...)
No Bar da Morte há roleta russa e jogam-se as almas à sorte.
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25 março 2010
(s/ título)
xu, demónio, tu qu'escondes cada homem de si próprio.
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24 março 2010
(s/ título)
a força deste fluir sem sentido é a força, justamente, de se não saber dele. Triunfo e a glória sempre internos, de quando se feche a roda depois do quantum penar. Não importa. Sempre pagas. Não haja penhor de mais alto merecimento que o mais fundo opróbrio sem que haja, ao lamento, de prestar a graça de bom labor. Dizeis que o mundo é mundo, que a metafísica há e a bom preço. Também a vária, a una noite, no cortejo pontilhista de céu. O marulhar da onda, as potências aquáticas de todo o lugar. É sempre cedo, é sempre vão. E supremamente o que é d'imperfeito que é tudo. E mesmo a soma totalizante de virtuais maravilhas; um bestiário todo por inteiro te fará aplacar a taxinómica querença de bom-saber. Os fungos ou colmeias a que chamais cidade, também. E o animal deslizante, os melindres de modista. A faca e a corda. Uma luz vermelha no ocaso. Também e ainda um naco de poesia. Os ratos e a manipulação de uma candura mal-sã. O orbe mesmo todo e os concêntricos mistérios. A alvura, primeira e última mas não única. O que há de verde e prolifera.
Polifemo que vê até onde a vista alcança.
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23 março 2010
(s/ título)
Queria a exactidão essencial da fórmula angélica.
Que nenhuma palavra fique por dizer. Mesmo no texto curto.
A verve final para cada pessoa; se convoque o íncubo e se traga para a luz, luz, luz e mais luz. E quando o derradeiro, em fim, chegar que seja pelo verbo que se vindique toda e qualquer mácula d'existir. O futuro é também história, ainda por acontecer mas contendo já os factos, os casos e a irrisão própria do esquecimento. É nessa toda-potência onde há que beber, régio comando de um destino ubíquo. Pelo contrário, o passado é mais do que morte, o passado é estagnação. Não podemos, com tudo, desembaraçar-mo-nos completamente dele, porque cada expressão porta consigo rios de pó, um tanto de citação, um outro de olvido. Mas é com os olhos no horizonte ainda encoberto que se desbrava a selva do presente, a dolorosa indiferença dos coevos; e quanto mais essa dói quando se observa, no limite da incredulidade, o afã de ninharias deste mundo, o deletério e o deleite que o vulgo parece gozar com os altos píncaros de mediocridade a que se alcandoram os escribas da moda. Príncipes da fútil banalidade, quando todos sabem que a escrita é dilaceramento e morte em vida, terror venal e uma imensa angústia de arcar com o peso inefável de todos esses fantasmas.
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22 março 2010
(s/ título)
Qual a fenestra do ditoso porvir? A onda que bem-preenche, una e variegada, plena de força e aleluia. Vê, tudo desmorona; olha, não estás em ti.
O funesto e soturno é toda tua vida, uns dias mal, outros pior. Que bom seria ser leve como o pássaro, a nuvem, mesmo a tempestade. Imenso, sem tolher ou ser tolhido.
Diz-me como é o ritmo que anima cada alma; o soar do anjo anunciador; o rugido feroz de feras e bestas que sabem, de ciência antiga, qual o destino do mundo.
Desesperas em tanta humanidade, bafo de gente opressa, oprimindo; não há mal nem desdém que não sejam corriqueiros momentos na vasta história: um palimpsesto d'horrores no tecido da vida; velino maculado a sangue. E, no entanto, ainda se empresta o dom da esperança às coisas pequenas que prenunciam a era de uma ventura tremenda: o tempo da reconciliação, do término final de quanto desengano.
Mas, mesmo então, suspeito que terias preferido ser nada.
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21 março 2010
Noctis Sacra
Notícia d'antiga feitura de que a luz é d'auspiciosa tenção; seja, pelo contrário, penumbra de funesto viver. Quanto sustentáculo há para essa boa-tese que nos permita discordar? O obscuro encerra absconsas virtudes: é pela solidão da noite que me encontro em mim mesmo, no silêncio sacro dess'afanosa burguesia, quando desperta aquela boémia que faz girar o mundo. É, na jornada, o templo do mistério, da pulsão tod'acesa, qu'incandesce de meia-noite. É certo que há feras e lobos, que estão à espreita. E, então, sair é comungar desse banquete mesmo que por agnus dei. Ainda assim se reafirma: a luz é tanto transparência que nada fica para a fraca fortaleza d'humana mesura. Que a treva é mais de gente, daquela que padece por existir e que isso é mais próprio da extrema singularidade que a cada um foi dado viver. É certo que, por isso, s'abdica da plenitude solar mas há-de vir o semideus que vela insone e que, portando, será uno no mesmo dia.
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20 março 2010
(s/ título)
um homem só se perde quando malbaratou seu aprazado tempo.
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19 março 2010
(s/ título)
A quem vive sem esforço a morte muito custa.
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18 março 2010
(s/ título)
Um dia todo o teu esforço te levará, ligeiro, até à cova.
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17 março 2010
(s/ título)
O aperfeiçoamento nada te diz: tu já és.
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16 março 2010
(s/ título)
Tu, que nada és, quiseras ser tudo, numa palavra apenas.
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15 março 2010
(s/ título)
Pensai no bom que seria se, ao teu gesto, andassem mundos.
Deus te livre desse temível poder.
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14 março 2010
(s/ título)
Não era bem. Não era mau. Antes pelo contrário: cabia na justa medida.
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13 março 2010
(s/ título)
Dito isto fechai a porta.
Acabou: fechai a porta.
No derradeiro, perniciosa Fortuna, fechai a porta.
Mesmo portadores de má-nova, fechai a porta.
Sois bem-queridos, retornais. Fechai a porta.
Fechai, todos, todas suas portas.
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12 março 2010
(s/ título)
Mil arroubos, quase.
Mil corcéis, quase.
(Centos de quadruptes, quase)
Mil venturas, quase, sem uma memória.
Mil virgens impolutas, quase.
Mil vertigens dissolutas, quase.
Mil aromas, branda aura, quase.
Mil caveiras sempiternas, quase.
Mil torneiras de tabernas, quase.
Mil certidões de vida vivida, quase.
Mil aduções, tantos limões, quase.
Mas só há um labirinto.
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11 março 2010
(s/ título)
Melhor aquele que olha e não vê porque insciência é virtude neste mundo.
Melhor aquele que quer e não tem porque da tentação está livre.
Melhor é aquele que jaz morto porque melhor era não ter nascido.
Melhor é aquele que dá porque o diabo tudo rouba.
Melhor é aquele que vive a manhã porque se subtrai das sombras da noite.
Melhor é aquele que louva, com verdade, porque pensa o bem de todos.
Melhor é aquele que apodrece no calabouço porque assim mais alto preza a liberdade.
Melhor é aquele que cala e não diz porque s'exime de toda explicação.
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10 março 2010
(s/ título)
retirai palavras ao texto, que fique só prosa; excidí carne e gordura: restai, d'imenso alvor, os ossos.
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09 março 2010
Epitáfio-de-quando-Nascemos
Outrora, insciente, era por ventura mais feliz... sei que volterei à primordial essência.
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08 março 2010
(s/ título)
Sou de tristeza mansa... porém creio, em esprança, que alguém, um dia, veja a vertigem que tenho dentro. Porque não sei se essa vertigem, é vertigem; se os rios que conduzem a essa vertigem são rios; se as hecatombes que proliferam são hecatombes; as feras de ferina natureza; os olhos-de-penumbra se de sombras são feitos; as chagas e marcas e cortes e dilacerações várias são isso. Porque é preciso que esse alguém diga: eu vejo, para o poder saber, de certa ciência. Porque muito há d'enganador, de fátuo, e de pouco cerne. E isso magoa, tira-o-sono, tergiversa a prosa, acomete o próprio de mim de uma tristeza mansa...
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07 março 2010
(s/ título)

não é da casa dos homens mas d'inferno e desventura. Ainda quando se perfilam os anjos, concorrendo à-uma para louvar o bizarro ícone de matéria espúria te disse, no alto brado dos danados: arreta teu doce destino, são desabridas as comportas do fétido enxurro, matai o cordeiro se tanto vos aprouver no bom conselho daquele desgrenhado profeta, mas fechai o que por força é de cerrar.

Não foi essa tua tenção. E agora nadamos no esgoto do mundo super-lunar.

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06 março 2010
(s/ título)

a fúria da escrita alucinatória tem, como reverso, a angústia de um polícromo sólido geométrico, contudo, d'infinitas faces.

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05 março 2010
(s/ título)
deveis acreditar no diverso do mundo. Porque o diverso do mundo é toda uma teologia. O seu contrário – por muito que repugne à Natureza o vazio – não é o nada mas o uno e sua mónada imensa. Se, há tanto, imperou íntegra não o sabemos. E se dela foi gerado o múltiplo, hoje é ele que predomina e, assim, em consonância deves viver.
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04 março 2010
(s/ título)
Já só há largo penar quando assí se construiu a vista & a vivência.
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03 março 2010
(s/ título)
transformar a vida pela força do olhar adentro.
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02 março 2010
(s/ título)

(...) quando cansado ou com sono escrevo a escrita adquire – estou em crer – essa qualidade nocturna d'enxurro do mundo...
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01 março 2010
(s/ título)

Anulado. Laborais no pernicioso embalo de uma perfeita homeostase.
Não te afecta o tempo; desconhecida é, já, a háptica alegria; restas, por fim, imunizado a qualquer temperatura.
Por outro lado, nem no pensar há encontro, sempiterno, obnubilado pela comum destinação.
Apenas sabes, confusamente, que não sejas quem és; mas, nem um outro, ainda que pior.
Aperta-te o penar de, sequer, sentir sofrimento. Mesmo se alguém te convoca, repondeis ao comando dos viventes com a embotada razão de uma sombra, como todas, impermeável e estranha à chã matéria.
(como vêem, padece, o pobre, de um peculiar tipo d'inexistência).
Pois que, na imperecível esfera do cosmo, seguindo primordial saber, o centro é todo o lugar. Mas, porque assim o é, tal de tal sorte daí se retira que seja lugar algum; ergo s'equivalem âmago e periferia.
Como esse inexiste – não pode, aliás, existir – concluo que o orbe, Aquiles finado mas, de pés, entre todos o mais veloz e tu, caro leitor, são um sonho d'onírica progenitura.
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Nome: João Pereira de Matos Cidade: Lisboa
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